A reunião entre a nova comissão de trabalhadores (CT) da Autoeuropa e a administração da fábrica de Palmela deverá ocorrer nas vésperas da implementação do terceiro turno, que vai ocorrer já a 30 de outubro. Isto significa que, para já, o impasse continua em relação aos novos horários de trabalho.
As listas vencedoras para a CT foram divulgadas terça-feira à noite, mas nenhuma conseguiu a maioria. Por isso, é preciso haver consenso por parte dos 11 membros da comissão sobre quem irá ocupar o cargo de coordenador. Já a comissão executiva será composta por seis membros, que serão eleitos através de voto secreto dos 11 membros da comissão de trabalhadores.
“Tudo isto exige tempo e consenso entre todos os 11 elementos que foram eleitos e, como são provenientes de quatro listas diferentes, poderá ser mais difícil chegar a um acordo dentro da própria comissão de trabalhadores. Tudo indica que a reunião deverá decorrer na terceira semana de outubro, mas o mais certo será na quarta semana”, revela ao i Armando Lacerda, número dois da lista vencedora.
Recorde-se que a lista E, liderada por Fernando Gonçalves, ganhou as eleições para a CT, tendo assegurado quatro eleitos num universo de 11 lugares, depois de ter alcançado 30,2% dos votos.
Já a lista C, com alguns elementos afetos à CGTP-In e encabeçada por José Carlos Silva, assegurou a eleição de três trabalhadores, enquanto a lista D, liderada por Fausto Dionísio (26,9%), garantiu a eleição de outros três elementos, a que se junta mais um eleito pela lista A. A lista afeta à UGT não conseguiu eleger nenhum elemento para a comissão de trabalhadores.
A lista liderada por Fernando Sequeira – coordenador da comissão de trabalhadores que se demitiu depois de os trabalhadores terem rejeitado o pré-acordo que tinha sido previamente negociado com a administração da empresa para os novos horários de trabalho de laboração contínua – também não conseguiu eleger nenhum elemento. E acabou por ficar em último lugar nas eleições, obtendo apenas 2,04% dos votos.
Propostas A verdade é que está tudo de olhos postos na nova organização da CT para que a fábrica de Palmela volte a encontrar a paz social. A criação de um novo turno ao fim de semana é uma das possibilidades admitidas pelo líder da lista vencedora para ultrapassar o diferendo com a administração da fábrica de Palmela.
No entender de Fernando Gonçalves, o investimento foi mal planeado e não foram criadas condições humanas nem técnicas para que o lançamento do T-Roc e a construção do mesmo não tivessem estes problemas. “Deu no que deu, deu na greve”, acrescentou.
O certo é que o trabalho ao sábado, que deverá arrancar na primeira semana de fevereiro, continua a ser encarado com um entrave para resolver os problemas que culminaram na paralisação histórica da fábrica, impedindo o fabrico de 400 veículos.
De acordo com a lista vencedora, o trabalho ao sábado deve continuar a ser pago como trabalho extraordinário. Armando Lacerda lembra ainda que, ao mesmo tempo, deve ser encontrado um equilíbrio para os casais que estão a trabalhar na fábrica de Palmela. “A avançarem esses horários, não faz sentido que os casais, e há muitos nesta unidade industrial, estejam a trabalhar em sábados desencontrados”, refere ao i.
Deslocalização afastada
À medida que nos vamos aproximando do dia D para pôr fim ao braço-de-ferro entre a administração da fábrica e os trabalhadores, as ameaças que foram surgindo sobre o risco de deslocalização de parte da produção para outras fábricas – uma vez que elas competem entre si e todos os critérios contam, desde a qualidade à pontualidade, passando por muitos outros fatores – vão-se dissipando.
Recentemente, o presidente executivo da Volkswagen afirmou que esperava que o conflito laboral na fábrica de Palmela estivesse resolvido até outubro e afastou a hipótese de transferir para outro local a produção do novo modelo T-Roc, ao garantir que a marca alemã “não está a considerar outras opções” para assegurar a produção do modelo, apresentado no final de agosto.
O presidente executivo disse ainda que a alteração do local de fabrico seria “muito dispendiosa”, acrescentando que é possível “vender tantos carros (do novo modelo) quantos Portugal puder produzir” – ou seja, declarações que afastam o cenário de risco apresentado, em agosto, pelo diretor-geral da Autoeuropa, Miguel Sanches, que abria portas para a possibilidade de a produção do T-Roc ser, pelo menos, parcialmente deslocalizada. “É um cenário que está em cima da mesa, mas tanto a administração como toda a equipa da Autoeuropa irão fazer o possível para manter toda a produção do carro em Portugal”, afirmou na altura, lembrando ainda que “o T-Roc foi um modelo exclusivamente escolhido para ser produzido na Autoeuropa”.
Mas enquanto se assiste a este impasse, e para fazer face às novas exigências, a fábrica de Palmela já começou a fazer as contratações. A ideia é empregar mais dois mil trabalhadores até ao final do ano, dos quais 750 são para implementar um sexto dia semanal de produção. “O processo está a decorrer normalmente, já entraram alguns trabalhadores para começarem a formação, de modo que no início do próximo ano esteja tudo em pleno para arrancar com o terceiro turno”, revela ao i fonte da empresa.
No final deste processo, o total de trabalhadores irá atingir os 4735 – um número que, até aqui, nunca tinha sido atingido. Só em 2000 é que a fábrica de Palmela atingiu os quatro mil colaboradores.