Os barrosistas não são, afinal, assim tão rioístas. Contrariamente ao muito presumido devido ao apoio público de Manuela Ferreira Leite e à proximidade José Pacheco Pereira, Rui Rio não tem como garantido o endorsement de outros distintos contemporâneos do antigo Governo de José Manuel Durão Barroso.
Depois de Nuno Morais Sarmento se ter distanciado, pelo menos ideologicamente, de Rio, admitindo ser mais «à direita» do que o candidato que se assume «do centro-esquerda», José Luís Arnaut também contraria o já suposto e diz ao SOL que «ainda» não declarou apoio a ninguém. «As eleições são em janeiro. Temos que ver. Pelo Natal devo decidir», esclarece o ex-ministro, que ainda aguarda «pelos programas» dos candidatos.
Arnaut deixa, no entanto, uma advertência. «Sou profundamente anti-regionalista», sendo que, como é público, a regionalização é uma das bandeiras mais afetas à candidatura de Rui Rio. Mas o ‘senador’ social-democrata insiste que decidirá depois de um tempo em que «ainda não há programas». E a verdade é que ainda não se ouviu o que Pedro Santana Lopes tem a dizer sobre o ‘regionalismo’.
O SOL sabe que o nome com quem José Luís Arnaut partilharia maior afinidade política seria o eurodeputado Paulo Rangel, que optou por não aparecer na corrida. Mas Arnaut, que está no estrangeiro, deixa bem claro, como conclusão: «Há quem precise de declarar apoio para aparecer. Eu não estou aí».
Rio à espera do Porto, sem estruturas, mas com militantes
Depois de Bragança Fernandes, presidente da distrital do Porto, ter declarado o apoio a Pedro Santana Lopes a título pessoal, o SOL apurou que a candidatura de Rui Rio não conta com o apoio de nenhuma das estruturas concelhias dentro do distrito onde já foi presidente de Câmara.
O porta-voz de Rio, Salvador Malheiro, todavia, mostra tranquilidade. «A demora nos órgãos locais é natural. Uma coisa é alguém falar a título pessoal, outra coisa é uma voz ter unanimemente a vontade de todos os seus militantes. Isso demora tempo», esclarece o também presidente da distrital de Aveiro. «As coisas estão muitíssimo bem nas concelhias do Porto, como é, aliás, natural», remete para a era em que Rio liderou o município da Invicta. «O que contará é o voto dos militantes», adianta num raciocínio já antes defendido por pesos-pesados da estrutura ao SOL da semana passada. Sobre quando – ou se – prevê que as comissões políticas concelhias do Porto declarem apoio público a Rui Rio, Malheiro conclui que o processo deverá decorrer de forma «natural» e num período de tempo «um pouco mais tarde».
O congresso dos indecisos?
Se a corrida reduzida aos dois nomes já assumidos – Rio e Santana Lopes –, a verdade é que a surpresa em torno da saída de Pedro Passos Coelho também trouxe uma imprevisibilidade em torno de quem lhe sucederia.
Durante o tempo em que Passos liderou a Oposição, e à medida que o congresso estaturiamente previsto se aproximava, vários nomes foram presumidos como favoritos, mas nem todos tinham a preparação feita ao longo de um ano que Rui Rio hoje tem, nem a vontade que Pedro Santana Lopes teve: José Eduardo Martins, que lançou um manifesto por uma «social-democracia de rosto humano» para levar a congresso; Pedro Duarte, que dirigiu a campanha de Marcelo Rebelo de Sousa à presidência e ainda hesitou em avançar como terceira via, são exemplos. Mas há outros e mais evidentes. Miguel Pinto Luz, também dessa geração mais jovem, chegou a ter uma declaração de apoios de renome e até informou Passos Coelho da intenção de avançar. A dificuldade em unir uma geração com receio de avançar já e, sobretudo, de ver outro ganhar protagonismo, fizeram-no adiar a vontade. A cautela em não dividir o aparelho ‘passista’, que se vai convertendo ao ‘santanismo’ e a ausência de preponderância mediática também motivaram Pinto Luz a uma espera mais demorada.
Mas nos breves dias que separaram o anúncio de saída (ou não recandidatura) de Passos Coelho dos anúncios de candidatura de Rio e Santana, houve muito movimento. Dois homens tiveram o partido no mão – ou podiam vir a ter: Luís Montenegro, primeiro; Paulo Rangel, depois.
Montenegro, que transitou da liderança do grupo parlamentar para maior recato na Assembleia e algum protagonismo mediático, era o favorito dos mais ‘passistas’ para herdar o legado de Passos Coelho. Montenegro foi presidente da bancada ‘laranja’ durante todo o Governo de Passos e era muito pretendido pelos quadros que subiram na estrutura com o ainda líder de partido. Há, segundo apurou o SOL, duas razões para Luís Montenegro não ter avançado para disputa contra Rui Rio, e nenhuma delas é o nortenho. A primeira é a coerência, depois de ser bandeira do ‘passismo’ durante seis anos, Montenegro não poderia empreender grandes mudanças na linha programática do partido sem ser acusado de incoerência. A segunda é a legitimidade. Com as dificuldades que se supõem para as legislativas de 2019, contra o PS de António Costa, seria difícil sobreviver a uma derrota sem um álibi que Passos tinha e Montenegro não teria: a vitória nas legislativas de 2015 e uma incumbência de longa-data. «É muito simples. Se o Luís fosse líder agora, ficaria numa situação pior que a do Passos se tivesse continuado. Teria as mesmas dificuldades sem as mesmas armas», explica um próximo, que mesmo assim o apoiaria. Tendo em conta que Montenegro pretende, já o assumiu, estar no «futuro do PSD», dois anos não seriam futuro suficiente. E não avançou.
Nas 24 horas seguintes, o mundo laranja focou-se numa figura: Paulo Rangel. Os rioístas queriam saber se avançaria (até porque partiria o norte com Rio) e não deixaram de relembrar que o eurodeputado entrou na política pela mão do ex-autarca. Os passistas não queriam só saber se avançava, queriam mesmo que fosse. Rangel reuniu apoios fundamentais, como o referido Montenegro e quadros das novas gerações, assim como incentivos de Marco António Costa (no Conselho Nacional) e do deputado e antigo presidente da JSD, Duarte Marques. Por «razões familiares» também não avançou quando tudo tinha a seu favor. Muitos dos seus ainda não perceberam. Foi a semana das indecisões.