“Está em grande forma”, reconhece um membro da Assembleia Regional próximo de Miguel Albuquerque. Mas não era do presidente do governo da Madeira que o seu próximo falava. Era de Alberto João Jardim, o antecessor, que do ponto de vista quer físico quer político continua a impor respeito. Este ano, Jardim tem regressado aos holofotes, com a publicação de uma autobiografia, mas o surgimento entrou mesmo em crescendo quando o apocalipse autárquico do PSD contaminou a Madeira, no pior resultado de sempre dos sociais-democratas naquela região. Em maio, o antigo e primeiro presidente do Governo Regional da Madeira publicou o seu “Relatório de Combate”; em outubro calçou as luvas de boxe outra vez. E o gancho foi prontamente desferido ao estado do PSD/Madeira depois da sua saída e ao seu líder atual, Miguel Albuquerque.
“O que até agora aconteceu no PSD/Madeira é mau demais para ser só incompetência, irresponsabilidade e leviandade política”, escreveu na sua página oficial. “Há quatro anos, essa clique exigiu a minha demissão da liderança do partido por só termos vencido em quatro câmaras municipais. Agora, só com três câmaras, espero que sejam coerentes”, adiantou, em comparação com o já mau resultado em 2013.
O certo é que a brecha entre os “jardinistas” e os “reformistas”, que olhavam (e alguns ainda olham) para Albuquerque como chance de mudança, é uma brecha cada vez menos estreita – não só pelos maus resultados autárquicos, como também, e paralelamente, devido à ascensão do Partido Socialista na Madeira.
A liderança do PS madeirense irá a congresso antes do final do ano e o seu líder, o deputado à Assembleia da República Carlos Pereira, deve ser substituído. A possibilidade de transpor a geringonça de Paulo Cafôfo do município do Funchal para uma solução regional é um receio autêntico para o PSD, que disputará eleições em 2019. A profunda (embora não inédita) remodelação que Miguel Albuquerque levou a cabo no governo regional em consequência do desaire nas eleições locais deste ano muito teve que ver com isso. As críticas de Jardim soaram a pré-aviso.
“Na ponte para a mudança, não estamos só a meio mandato, estamos mesmo a meio caminho”, expõe o mesmo próximo de Albuquerque, que teme que fiquem realmente por aí. “A remodelação foi, aliás, prova disso, que ainda estamos a meio caminho.” Com a criação do cargo de vice-presidente do governo madeirense (que tutela a Economia, as Finanças e a coordenação política numa superacumulação de pastas) e as mudanças nas Obras Públicas e no Turismo – setores igualmente protagonistas na região –, deu-se um regresso de vários jardinistas ao aparelho do executivo. Pedro Calado, que assumiu o lugar de número 2 do governo regional, convidou Luís Nuno Olim para seu chefe de gabinete, sendo Olim o antigo chefe de gabinete de… Alberto João Jardim. Dito de outro modo: Alberto João não regressou só aos holofotes, o jardinismo também regressou à política. Olim, que em 2012 acusou Miguel Albuquerque de prestar um “péssimo serviço ao partido [PSD/M]”, “de absoluto desprezo para com a região” e de “memória curta”, irá agora servir no governo chefiado por este. Para quem tenha memória maior, é outro sinal que soa a aviso. O jardinismo ensombra a governação de Albuquerque como nunca. E o próprio Alberto João, que no primeiro trimestre deste ano rejeitou a hipótese de regressar à política, vai-se mostrando cada vez mais presente. “Está em grande forma”, diziam. Ora.