A comissão sobre os Assuntos Europeus que se realizou esta sexta-feira contou com a presença de dois ministros, mas se fosse no mês passado poderíamos contabilizar três. A serem ouvidos, Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, e José Azeredo Lopes, ministro da Defesa. Falavam da Cooperação Estruturada Permanente e da possibilidade de se criar um exército comum europeu. A ouvir, Constança Urbano de Sousa ia tomando notas.
Foi a primeira comissão parlamentar dos Assuntos Europeus em que a ex-ministra da Administração Interna esteve presente. O tema em nada tinha a ver com incêndios, mas o ambiente chegou a aquecer. A discussão era sobre a participação de Portugal na Cooperação Estruturada Permanente, um mecanismo da Comissão Europeia que pretende aumentar o investimento militar e a investigação na defesa, de forma conjunta entre os membros da União Europeia.
Santos Silva e Azeredo Lopes defenderam a participação, que Portugal ainda não confirmou, como uma forma de "reforçar a cooperação entre estados membros soberanos para ficarem mais seguros", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros, e de "aumentar o investimento em novos equipamentos e investigação", acrescentou o ministro da Defesa. Foi o PCP que iniciou a ronda de perguntas e criticou a razão da criação deste mecanismo como uma forma errada de combater a crise de migrantes que a Europa atravessa, atribuindo à Alemanha o maior interesse nesta medida. O PSD criticou a falta de diálogo do governo com o parlamento sobre o assunto e garantiu que existem "verdadeiras linhas vermelhas" que os sociais-democratas não admitem ultrapassar decretando que não apoiam "cheques em branco"
Constança Urbano de Sousa assistiu às intervenções em silêncio, mesmo quando o CDS, em tom de brincadeira, afirmou que o PCP apoiava a Coreia do Norte, o que levou o deputado comunista a comentar para o ar: "Deixem-se palermices". A única intervenção da ex-ministra nem sequer foi oficial e apenas os colegas do PS e os deputados do PSD, a quem se dirigia, conseguiram ouvir o que disse. No momento em que os deputados sociais-democratas criticavam a resposta de Augusto Santos Silva, Constança, por solidariedade ao lugar, por amizade aos ex-colegas ou simplesmente por respeito à comissão, acabou por trocar algumas palavras com os deputados da oposição, mostrando apoio ao ministro. Também a presidente da comissão Regina Bastos, do PSD, acabou por intervir, interrompendo o discurso para colocar ordem na sala e o ministro dos Negócios Estrangeiros repetiu a resposta que tinha dado.
Constança Urbano de Sousa não falou mais durante a comissão a não ser com os colegas de partido, acabando por abandonar mais cedo a sala da reunião quando o Bloco de Esquerda mostrava a sua posição contra a adesão de Portugal à Cooperação Estruturada Permanente. Ficou ainda por ouvir a opinião dos deputados do CDS que tão jocosamente tinham vindo a intervir durante a reunião. A ex-ministra não quis falar sobre as novas funções que assumiu dentro do grupo parlamentar do PS.
Depois da demissão a 18 de outubro, na sequência da segunda tragédia dos incêndios, a deputada socialista integra agora a comissão parlamentar dos Assuntos Europeus, como membro efetivo, e a comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, como suplente.