Pedro Santana Lopes garante que, se for eleito presidente do PSD, irá convidar o adversário Rui Rio a trabalhar no projeto de construção de uma alternativa ao atual Governo. "Se eu ganhar as eleições, como espero, faço tenções de convidar membros da outra candidatura, a começar pelo dr. Rui Rio, a trabalhar no projeto de construção de uma alternativa ao Governo das esquerdas", afirmou, numa intervenção perante as Mulheres Social-Democratas (MSD), uma estrutura informal mas sem existência jurídica no PSD.
Curiosamente, ambos os candidatos foram prudentes ao abordar a pretensão das MSD de serem consagradas nos estatutos do partido já em fevereiro. Rui Rio manifestou mesmo uma posição contrária a qualquer alteração estatutária no próximo Congresso; Santana Lopes disse apenas não ter uma "posição fechada" em relação ao assunto, garantindo no entanto considerar justa a causa das Mulheres Social-Democratas e salientando que, quando teve funções executivas, escolheu muitas mulheres para cargos de destaque.
Elogiando novamente o ainda presidente do PSD, Pedro Passos Coelho – "Quem diz mal dele, em breve falará bem. Um dia destes vai ser condecorado até por câmaras de outros partidos", previu, recolhendo aplausos da plateia -, Santana Lopes aproveitou ainda para criticar o argumento "estapafúrdio" – e que tem sido utilizado pela candidatura de Rio – de que os militantes do PSD devem escolher o líder que os portugueses desejam, com referências negativas ao período em que Santana Lopes foi primeiro-ministro, em 2004. "Dizem que o cargo de presidente da Câmara de Lisboa está algures entre o de ministro e o de primeiro-ministro. Então se quando chegam as eleições autárquicas, sou eu o convidado para ser candidato, então há credibilidade ou não? Há apoio lá fora ou não há apoio lá fora?", questionou, numa intervenção mais aplaudida pelas Mulheres Social-Democratas que a de Rui Rio. "Desta vez não vou herdar o poder de ninguém. Se me tivessem ouvido naquela altura um bocadinho mais, talvez não se tivesse passado muita coisa no país. E não estou a falar de nada no plano judicial", afirmou. Em 2004, Santana Lopes assumiu o cargo de primeiro-ministro sem eleições depois de Durão Barroso se ter demitido para ser presidente da Comissão Europeia.
Depois das farpas a Rui Rio, Santana atirou-se também ao Governo. O antigo primeiro-ministro considera "um erro" a criação de uma empresa pública para a gestão florestal, defendendo que devem ser os autarcas a começar a prevenção em matéria de incêndios. "Criar uma empresa pública para gerir as florestas é o pior que podiam fazer. É mesmo um vício, é um erro, a prevenção tem de estar próxima das pessoas, a empresa pública é tudo menos aconselhável. Acredito que, em matéria de prevenção, as autarquias devem ter um papel determinante, tendo também os poderes coercivos inerentes", disse, lembrando a sua experiência enquanto autarca da Figueira da Foz, entre 1997 e 2001, onde manteve postos de vigia 24 horas por dia e um helicóptero em permanência no concelho. "Na altura, alguns brincaram dizendo que eu queria era andar de helicóptero. Fiz tudo isto e praticamente não tivemos área ardida", salientou.
Santana Lopes disse ainda esperar que o Governo trate de igual forma todos os concelhos afetados pelos incêndios deste verão e lamentou que, por exemplo, Mação não esteja incluído no projeto-piloto de reflorestação, recordando também que, no âmbito da campanha interna, já esteve no terreno nas regiões afetadas pelos incêndios. "Eu fui conhecer, nem todos foram. O país neste momento precisa de alguém com esse perfil, que faça, gente fechada em gabinetes e distante do povo, neste momento não", defendeu.