Ascenso Simões não é o primeiro deputado socialista a votar contra a orientação de voto da sua bancada, mas talvez tenha sido o primeiro deputado do PS a fazer críticas violentas a Carlos César, presidente do PS e líder da bancada parlamentar – como aconteceu na entrevista que deu ao “SOL” no sábado passado.
Se o provérbio diz que a vingança se serve fria, César vingou-se a quente: fez ontem queixa de Ascenso Simões à comissão nacional de jurisdição do PS, pedindo uma avaliação do comportamento do deputado na votação na especialidade do artigo sobre o subsídio das renováveis. Na prática, o líder parlamentar do PS pede à comissão de juristas do partido uma investigação sobre se o voto de Ascenso Simões ao lado do Bloco de Esquerda será suficiente para a instauração de um processo disciplinar ao deputado.
“O PS devia ter pedido desculpa ao Bloco de esquerda”
Na entrevista que deu ao “SOL”, ao jornalista Luís Claro, e que foi publicada na edição de sábado passado, Ascenso Simões defendeu mesmo que “o PS devia ter pedido desculpa ao Bloco de Esquerda” por ter mudado de posição relativamente à descida dos subsídios nas energias renováveis. Na realidade, o acordo já estava firmado entre o governo, o Bloco de Esquerda e o PCP, e a proposta chegou a ser aprovada mas, depois, António Costa mandou “avocar” ao plenário – ou seja, obrigou a nova votação. E, aí, o PS já teve ordens para votar contra a proposta que tinha previamente acordado com o seu parceiro de geringonça. A alteração levou a deputada bloquista Mariana Mortágua a acusar o PS de “deslealdade” e Catarina Martins, Jorge Costa e outros dirigentes do BE a afirmar que os socialistas decidiram ceder ao lóbi das elétricas.
Também Ascenso Simões foi muito duro com o seu partido, nomeadamente com o líder parlamentar, a quem acusou de “não estar à altura dos acontecimentos”: “Se eu tivesse a responsabilidade teria, no início do debate, pedido a palavra e tinha pedido desculpa ao Bloco de Esquerda. Tinha dito: nós fizemos isto, os nossos dados não eram suficientes e pedimos desculpa porque não podemos continuar com este compromisso. Isto tinha feito muito bem a todos. Tinha impedido aquela discursata da Mariana Mortágua. Tinha transformado os deputados do PS em pessoas com valores. Era isso que eu teria feito. Isso é que seria estar à altura dos acontecimentos. Isso é que é ser um político com P grande. Nós não fizemos isso.” A crítica foi duríssima, a resposta não tardou.
Não foi a única crítica, na entrevista ao “SOL”, de Ascenso Simões ao líder parlamentar. Depois de Carlos César ter dito no debate final do Orçamento que “o PS não estava refém de nenhum partido”, Ascenso comentou: “O presidente do grupo parlamentar do PS diz que não estamos reféns dos partidos que apoiam o governo, mas é claro que estamos. Temos com os partidos que apoiam a maioria uma posição tripla: política, de honradez pessoal e de dignidade institucional.