Chapéu ao cachecol

Cristiano Ronaldo é  o melhor do mundo, Guterres o líder da ONU, Centeno o presidente do Eurogrupo,Portugal está na moda. E, porém, o fado é triste

Cristiano Ronaldo conquistou nesta quinta-feira a sua quinta Bola de Ouro – troféu que distingue o melhor futebolista do ano do mundo –, igualando feito só antes alcançado pelo seu rival e astro argentino Messi (e vão dez 10 anos de absoluto domínio repartido).

Extraordinário! Bom para ele, que nunca se contentou em ser segundo e sempre teve a ambição de ser o primeiro, o melhor, o maior. Bom para Portugal e para a autoestima de um povo que tem no triste fado canção nacional e na maledicência, no queixume, na vitimização e na inveja a sua prática de eleição.
CR7 é a marca portuguesa de maior goodwill no mundo.

Portugal e os portugueses atravessam, porventura, no dealbar do século XXI um dos períodos históricos de maior capitalização global. Sem correspondência, obviamente, com a era dos Descobrimentos e nos antípodas da imagem mundial do êxodo emigratório dos anos 60 e 70 do século XX.

Mário Centeno é o novo presidente do Eurogrupo. António Guterres é o secretário-geral das Nações Unidas, tendo estado à frente do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados. Durão Barroso cumpriu dois mandatos como presidente da Comissão Europeia. Jorge Sampaio passou a Alto Representante das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações depois de ter deixado a Presidência da República. Mário Soares foi quase presidente do Parlamento Europeu.

Em cargos internacionais de relevo, há ainda outros portugueses, vários, como Vítor Constâncio ou Vítor Gaspar, cuja competência técnica é chancelada pelas instituições financeiras europeias que os contrataram. Ou Horta Osório, cujo impressionante currículo o coloca no topo da banca da City, da Europa e do mundo.

E, se Cristiano Ronaldo chegou ao primeiro lugar do pódio do futebol mundial, José Saramago ganhou o Nobel da Literatura e Siza Vieira, primeiro, e Souto de Moura, depois, o equivalente para a Arquitetura (Pritzker). Até nas passerelles, Sara Sampaio triunfa de Paris a Nova Iorque, elevando a bandeira nacional nas suas páginas das redes sociais.

Para um país pequeno na cauda da Europa, e não querendo amesquinhar e dizer que, se calhar, é precisamente por isso mesmo – porque não é, embora às vezes possa ajudar –, é muito significativa a quantidade de personalidades que ‘exportamos’ para os centros de decisão ou de influência a nível global ou que se distinguem nas suas artes ou áreas de especialização.

É verdade que o país e seu povo raramente beneficiam financeira e economicamente do facto de contarem com um seu compatriota nesses lugares cimeiros e decisores de organizações internacionais ou interestaduais e muito menos com o reconhecimento ou premiação do sucesso de outros.

Mas, desde logo, é prestigiante. E o prestígio tem, por si só, um valor muitas vezes incomensurável.

Portugal está na ribalta internacionalmente.

Principalmente como destino turístico. Muito beneficiando, aí sim, a economia e as contas públicas com fenómeno que se impõe preservar e estruturar.

Portugal está na moda pelo clima, pela segurança, pela hospitalidade das suas gentes, pela riqueza cultural das suas cidades – com Lisboa e Porto à cabeça –, pela gastronomia, pelo bom vinho, pelas artes…

E está na moda não só no turismo.

Também, e sobretudo, por uma extraordinária diplomacia, que muito bem trabalha nos bastidores e fora dos holofotes mediáticos e que muito poucas vezes é devidamente reconhecida.

Por isso, há que registar um pequeno mas significativo gesto de Mário Centeno – agora recuperado com toda a oportunidade: na primeira reunião do Eurogrupo após a vitória de Portugal no Europeu de futebol, em julho de 2016, Centeno apresentou-se ante os seus pares de fato, gravata e… cachecol de Portugal.

No momento da eleição como sucessor do homem que dizia que os portugueses pouco ou nada mais fazem do que beber vinho e apreciar mulheres, faz todo o sentido recuperar a imagem.

Porque Centeno é português. Porque aquele cachecol ali usado é a imagem da autoestima de um povo. 

E porque a diplomacia portuguesa, uma vez mais, fez trabalho extraordinário para convencer a maioria dos Estados-membros da mais-valia do candidato de Portugal.

Chapéu ao cachecol!!!