Com organização de Maria Vitalina Leal de Matos, é a primeira edição das obras completas de Camões a surgir no mercado português em mais de 40 anos. Este primeiro volume, Impecavelmente anotado pela reputada camonista, inclui uma excelente biografia do vate português, levada até onde ela pode sensatamente ir, uma introdução geral e cuidados textos de apresentação a “Os Lusíadas” e às cartas de autoria segura de Camões, de cuja leitura emerge um auto-retrato “importante para o conhecimento do autor, hábil como é na dilucidação psicológica onde faz uma análise fina e irónica de si e dos outros”.
O material-guia de leitura situa-se longe daquela aridez académica que tantas vezes redunda em afastamento e perda de leitores, aspecto não propriamente desprezível nestes tempos de consumos culturais cada vez mais rarefeitos. Não serão, aliás, poucos os que desconhecem quantos cantos têm “Os Lusíadas”, uma epopeia feita de grandezas e esplendores mas também de cansaços, desalentos, amargos desenganos e frustrações que o poeta não esconde. De tudo isto nos falam estas estrofes do canto VII:
E ainda, Ninfas minhas, não bastava
Que tamanhas misérias me cercassem,
Senão que aqueles que eu cantando andava
Tal prémio de meus versos me tornassem:
A troco dos descansos que esperava,
Das capelas de louro que me honrassem,
Trabalhos nunca usados me inventaram,
Com que em tão duro estado me deitaram.
Vede, Ninfas, que engenhos de senhores
O vosso Tejo cria valerosos,
Que assi sabem prezar, com tais favores,
A quem os faz, cantando, gloriosos!
Que exemplos a futuros escritores,
Pera espertar engenhos curiosos,
Pera porem as cousas em memória
Que merecerem ter eterna glória!