Faz amanhã um ano que, por volta das três e meia da tarde, a vida de Mário Soares acabou.
Ninguém foi apanhado propriamente de surpresa. O velho guerreiro da fundação da democracia tinha sido internado nos cuidados intensivos no Hospital da Cruz Vermelha 25 dias antes, com «um quadro de agravamento do seu estado». Dias antes do Natal de 2016, começou a registar «uma evolução bastante favorável, revelando uma significativa melhoria progressiva na autonomia e na comunicação», conforme o boletim clínico diário emitido pelo Hospital. Mas o otimismo possível rapidamente acabou. «Na presença constante dos seus filhos, às 15h28m do dia 7 de janeiro de 2017, ocorreu o falecimento do dr. Mário Soares», informou o diretor clínico do hospital, com Isabel e João Soares a seu lado. Era um sábado.
O funeral de Estado – o primeiro em democracia – foi na segunda e terça-feira seguintes. Partiu da rua onde Soares morou a vida quase toda, a antiga Estrada de Malpique que foi depois rebatizada com o nome do seu pai, João Soares, fundador do Colégio Moderno. O corpo esteve a ser velado no Mosteiro dos Jerónimos, onde decorreram as exéquias oficiais. Na terça-feira, dia 10 de janeiro de 2016, Mário Soares foi enterrado ao lado de Maria Barroso no cemitério dos Prazeres. O cortejo parou nos lugares mais importantes da vida de Soares, Assembleia da República, Fundação Mário Soares, Partido Socialista.
Amanhã, quando passa um ano sobre a morte do antigo Presidente da República, tudo isto será recordado na inauguração de uma exposição dos fotógrafos que cobriram o funeral intitulada ‘A Cerimónia do Adeus’. Na homenagem a Mário Soares, são esperados o primeiro-ministro, o presidente da Assembleia da República e o Presidente da República.
O jornal i deste fim de semana entrevistou José Manuel dos Santos, o amigo de Mário Soares, administrador da EDP, que organizou esta exposição – e foi o representante da família na organização do funeral de Estado. José Manuel dos Santos conta como os íntimos estão a lidar com o desaparecimento do homem que, quando chegou a Portugal aos 49 anos, vindo do exílio para defender a implantação de uma democracia de tipo ocidental, acabou por viver, apesar da sua longevidade, mais tempo em ditadura do que em democracia: «É alguém de quem continuamos a falar como se estivesse muito presente».