Atualmente na Assembleia da República (AR) existem apenas seis deputados com até aos 30 anos. Entre eles, o mais novo é Luís Monteiro, do Bloco de Esquerda, que tem apenas 24 anos.
«Comecei a interessar-me muito pela disciplina de História. Na altura estávamos a dar o fascismo, o 25 de Abril e a implementação da democracia em Portugal» relembra Luís Monteiro, recuando aos tempos do nono ano de escolaridade. O percurso político começou no ano seguinte. «Estive três anos na associação de estudantes da escola artística Soares dos Reis», continua, e «quatro anos na associação de estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto». Para Luís Monteiro, o percurso que foi fazendo «consolidou de certa forma a possibilidade do próprio Bloco assumir que seria um bom candidato».
A primeira vez que se candidatou às legislativas, ocupava o décimo lugar nas listas no distrito do Porto, na segunda já era o terceiro. «Foi uma surpresa coletiva pelos resultados ótimos que o Bloco teve».
Também do BE, Isabel Pires nasceu em 1990 e completou no passado ano 27 anos. «Estou no Bloco de Esquerda desde 2008. Nessa altura tinha acabado de sair do secundário, tinha participado em algumas manifestações de estudantes por causa das questões dos exames e das condições das escolas», explica a deputada que confessou ter sido «estranho» entrar pela primeira vez na AR, «especialmente para quem vem de uma experiência de luta mais ativa, normalmente, do outro lado da escadaria».
O primeiro dia de Laura Magalhães, de 29 anos e deputada do PSD, foi «muito confuso». «Nesse primeiro dia recordo-me que andei com colegas do meu partido que já tinham sido deputados anteriormente a conhecer os cantos à casa e a tentar assimilar o maior número de informação possível». Uma das informações que assimilou primeiro foi o percurso entre os gabinetes e o plenário, «só fazia aquele percurso porque tinha mede de me perder neste grande edifício que é a AR», conta entre sorrisos.
Para Ivan Gonçalves e Hugo Carvalho, ambos do PS e ambos com 30 anos, o primeiro dia foi mais tardio. Os dois parlamentares entraram para a AR depois das nomeações dos ministros. Hugo Carvalho conta que se recorda – e que nunca esquecerá – «a chamada» que recebeu, a questioná-lo «se queria assumir funções de deputado». Já Ivan Gonçalves diz que o primeiro dia lhe permitiu dessacralizar uma ideia: «Recordo-me que uma das coisas que não estava à espera é que [o processo burocrático] fosse feito ao mesmo tempo do plenário, apesar de termos chegado antes», acrescenta.
Para além de ser um dos mais jovens a nível geral, Ivan Gonçalves é também o mais novo vice-presidente da bancada. «Eu confesso», afirma Ivan Gonçalves, que «quando comecei a minha militância num partido político não era o meu objetivo vir a ser deputado», e não vê a política como uma profissão.
Aliás, nem Ivan nem nenhum dos outros jovens deputados vê na política o seu futuro. Margarida Balseiro Lopes, de 28 anos, do PSD, explica que um dia voltará à sua atividade. «Eu gosto muito de política, eu respiro política, mas a política não é carreira nem é profissão», diz ao SOL, «quando terminar o meu mandato de deputada hei de regressar à minha profissão», de consultora fiscal. Também Hugo Carvalho, relembra que «as coisas mudam muito facilmente, os ciclos políticos não são eternos», enquanto Laura Magalhães vê a atividade parlamentar como «uma missão: Nós estamos aqui para ajudar o próximo, ajudar os cidadãos que nos elegeram e, nesse sentido, não vejo isto como a minha profissão. Vejo como uma experiência, algo pelo qual estou a passar e que me enriquece muito».
Novos entre experientes
O primeiro dia pode ser simples, mas o trabalho seguinte complica-se. «É verdade que para um jovem ter afirmação política, tem de dar duas vezes mais provas do que outra pessoa», refere Hugo Carvalho.
Por vezes, aos olhos dos outros, os jovens não têm «legitimidade» ou «autoridade» e há até um certo «paternalismo». Foi assim que Luís Monteiro e Margarida Balseiro Lopes sentiram no início. «A autoridade que nós ganhamos e a legitimidade que vamos construindo nota-se, por exemplo, em plenário e isso sente-se, claramente, nos debates em comissão», explica Luís Monteiro, acrescentando que a preparação é um dos fatores mais importantes do trabalho. Já Margarida Balseiro Lopes afirma que ao entrar existe «sempre um paternalismo associado ao facto de seres jovem e também de seres mulher, mas é um paternalismo que dura pouco. Neste momento não sinto qualquer tipo de constrangimento por ser das mais jovens».
«Aquilo que sinto da parte dos meus colegas deputados, dos meus colegas da direção da bancada, dos coordenadores das diversas áreas é, acima de tudo, muito respeito pela instituição da Juventude Socialista (JS). Esse respeito é pelo cargo, não pelo Ivan Gonçalves, é pelo secretário-geral da JS», cargo que acumula com o de deputado parlamentar e deputado municipal de Almada.
Isabel Pires acredita que «esta legislatura acabou por baixar um bocadinho» o nível etário do hemiciclo, «mas ainda assim é um meio onde a grande maioria dos deputados e deputadas estão cá há bastante tempo». No entanto, a entrada de jovens «não significa um rejuvenescimento do tipo de ideias que são trazidas», acrescenta a deputada bloquista.
Apesar de não haverem «tantos jovens no parlamento como seria desejável», para Ivan Gonçalves a questão principal diz respeito à representatividade: «Se me perguntarem se, neste momento, acho que a representatividade dos jovens no Parlamento está absolutamente assegurada, não está. Mas tenho esperança, com o passar do tempo que essa situação venha também a melhorar», afirma.
«A política, e isso não é só da parte dos jovens, é da população em geral, é muito mal vista», desabafa Margarida Balseiro Lopes. «Para muitas pessoas, hoje em dia, ter currículo [político] é ter cadastro e isso obviamente é uma realidade que não devemos ignorar e devemos combater», acrescenta.
Hugo Carvalho defende que a política deve ser mais «atrativa», não só para os jovens, para todos os profissionais. «Se nós queremos atrair os melhores para a política, a política também tem de ser atrativa para as pessoas». O deputado socialista utiliza a sua experiência como exemplo para explicar o ponto de vista: «Para vir para a AR desempenhar funções políticas tive de deixar todo o percurso que tinha feito até então e, no dia em que sair daqui, porque trabalhava no setor privado, terei de recomeçar do zero».
Laura Magalhães conta pelos dedos das mãos «os deputados mais jovens» do parlamento e defende um equilíbrio com os mais velhos: «É a junção destas duas faixas etárias que certamente trará melhor futuro para os portugueses».
«Não vale muito a pena pensar se há deputados novos ou há deputados menos novos na AR. Interessa perceber se as gerações mais novas olham para a AR e encontram aqui dentro as pessoas e as propostas que defendam os seus direitos e que consigam resolver os seus problemas», remata Luís Monteiro.