Se o partido não acaba no parlamento, os deputados não acabam em Rio ou Santana. Mais de metade já declarou apoio a um deles e Santana Lopes tem cerca do dobro dos parlamentares consigo, comparativamente a Rio, ao que o i contabilizou até agora. No voto do militante base e nas estruturas a conversa varia, mas é no hemiciclo que o partido se espelha – e nesse espelho há muita hesitação de destaque.
Se o silêncio institucional de Pedro Passos Coelho é expectável e vai de encontro ao respeito por qualquer um que o suceda, há também uma neutralidade junto dos seus mais próximos (pessoal e politicamente). Dos seus vice-presidentes, apenas Teresa Morais assumiu uma posição, participando na elaboração do programa de candidatura de Santana. Maria Luís Albuquerque, ausente da primeira fila há já algum tempo ainda que candidata nas últimas autárquicas, não apoia nem Santana nem Rio, mas dificilmente apoiaria o nortenho depois das várias quezílias que tiveram durante o tempo de governação PSD/CDS: Rio acusou-a de faltar à verdade e culpa-a pelo arrastar da situação do Banif. Teresa Leal Coelho, das mais próximas de Passos Coelho, viu Santana recusar ser seu mandatário de candidatura em Lisboa, também nas autárquicas, e tem em comum com Rio uma visão progressista dos costumes, mas a sua lealdade a Passos não admitiria essa possibilidade.
No que diz respeito a Marco António Costa (MAC), também vice-presidente de Passos, conhece tanto Rio quanto Santana há largo tempo e tem mantido resguardo nestas eleições diretas. Embrenhado na atividade da Comissão Parlamentar de Defesa, MAC, como é conhecido no partido, afirmou em outubro, no conselho nacional em que Passos Coelho anunciou saída, que não assumiria cargos executivos no partido depois dessa saída de Passos. Dois deputados seus próximos, Miguel Santos e Virgílio Macedo, assumiram apoios (a Santana e Rio, respetivamente), mas a escolha predileta de Marco António está por se saber.
Quanto a Paula Teixeira da Cruz, que foi ministra com Passos, a distância à disputa interna do partido é manifesta. Marques Guedes, que viu Emídio Guerreiro, seu próximo, apoiar Rio, ainda não declarou apoio, e Matos Correia já avisou que não tomará posição por argumento institucional: é vice-presidente do parlamento.
Outro dos rostos de destaque que acompanhou o passismo e permanece, até agora, imparcial, é Luís Montenegro, o homem que muitos acharam que avançaria ele mesmo. Foi vice-presidente de bancada de Santana quando este presidia o grupo parlamentar, na liderança de Menezes.
O eurodeputado Paulo Rangel e o ex-líder distrital Miguel Pinto Luz, os outros dois eventuais que optaram por não avançar, também não publicaram ainda qualquer apoio. Bruno Vitorino, que esteve próximo da intenção de Pinto Luz e lidera a distrital de Setúbal, também não.
Regressando à bancada, há somente dois vice-presidentes que permanecem na neutralidade. António Leitão Amaro e Miguel Morgado. Leitão Amaro tem procurado pontuar as suas preocupações durante a campanha, pedindo um debate com conteúdos e “sem misturas” com o Partido Socialista. Morgado, que foi adjunto de Passos durante todo o governo 2011-15, tem-se reservado ao silêncio. Nenhum de ambos é exatamente “de centro-esquerda”.
O secretário-geral do partido, José Matos Rosa, mantém-se na neutralidade que a sua responsabilidade institucional exige.