Em 2014, Pedro Passos Coelho era primeiro-ministro e António Costa disputava a liderança dos socialistas com António José Seguro. O agora primeiro-ministro considerava, porém, nessa altura que o seu verdadeiro “adversário” era Rui Rio, porque, à direita, as pessoas se reviam cada vez mais no ex-presidente da Câmara do Porto.
Foram precisos mais de três anos, mas a previsão concretizou-se. Costa e Rio aproximaram-se quando os dois eram autarcas e o agora primeiro-ministro nunca escondeu a estima pelo novo líder do PSD. Falharam as especulações de que a aproximação entre os dois poderia ressuscitar o bloco central, mas é consensual dentro do PS que o diálogo vai ser mais fácil.
Numa primeira reação à escolha dos militantes sociais-democratas, António Costa admitiu que a relação com o PSD poderá melhorar a partir de agora. “Não será seguramente difícil ser melhor.” O primeiro-ministro voltou a mostrar abertura para entendimentos nas questões essenciais. “Espero que, como ele disse, tenha com o governo uma relação firme, exigente e construtiva ao serviço do país. É essencial em todas as democracias – que é um regime do compromisso – que exista um bom diálogo entre a oposição e o governo, cada um defendendo as suas posições mas sendo capazes de um entendimento sobre questões essenciais”, afirmou.
A verdade é que o acordo do PS com os partidos à sua esquerda não facilita entendimentos com o PSD. Mesmo antes de ser eleito o novo líder do maior partido da oposição, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, fez questão de afastar o fantasma do bloco central: “A minha posição sobre a política de alianças é mais do que conhecida, não muda. Acho profundamente perigoso para a democracia portuguesa que os dois maiores partidos governem sozinhos”, disse, na Rádio Renascença, o governante.
O histórico socialista Manuel Alegre também defendeu que a nova liderança do PSD não vai “fazer tremer esta solução de governo”. Alegre, em declarações à TSF, disse esperar que “o acordo à esquerda seja repetível e continue, porque foi bom para o país”. Ao i, o deputado e líder do PS/Porto Tiago Barbosa Ribeiro diz esperar que “a nova liderança do PSD possa inaugurar uma nova fase na vida política nacional. Sem ressentimento com a escolha dos portugueses que se traduz na atual maioria parlamentar e sem o radicalismo ideológico que marcou a liderança de Passos”.
Um caminho novo? Há, porém, setores do PS que têm esperança de que os dois partidos se aproximem com a saída de Passos Coelho. Ao i, José Junqueiro, ex-dirigente socialista, confessa que a vitória de Rui Rio “abre um caminho novo para se poderem estabelecer consensos inadiáveis na sociedade portuguesa”. Para este socialista, as condições para “fazer compromissos de regime são agora mais robustas” (ver entrevista ao lado).
Rio aberto a compromissos Um dos aspetos que distinguiram as duas candidaturas à liderança do PSD foi o posicionamento em relação aos socialistas. O agora líder do PSD apresentou–se mais aberto a consensos e até abriu a porta a viabilizar um governo minoritário do PS. Na moção de estratégia global que vai apresentar ao congresso, Rui Rio defende que “o interesse nacional e a defesa do bem comum são os superiores princípios que secundarizam o interesse partidário imediato” e que “seja no exercício da governação, seja como partido da oposição, o PSD não pode fechar-se a entendimentos, sempre que aqueles superiores princípios estejam em causa”. O novo líder do partido realça que “o PSD tem, na sua cultura política e na sua história, a busca do compromisso como expressão de responsabilidade democrática, não só para com os seus eleitores, mas também para com o país. Esse legado, não o poderemos apagar ou desvalorizar”.
A moção de Rio defende, por exemplo, que é necessário “construir compromissos para a mudança da lei eleitoral que concretizem uma maior proximidade com os cidadãos e credibilizem a representação e reforcem a autoridade da instituição parlamentar”. Mas também na área da justiça, para avançar com “a simplificação e estabilidade dos diplomas estruturantes do sistema jurídico”.
O Presidente da República tem apelado à necessidade de os partidos atingirem consensos “mais largos, envolvendo a direita e a esquerda”. A última vez que o fez foi há uns dias, a propósito do pacto entre os agentes da justiça com 89 medidas para o setor. “Quando aqueles que trabalham no setor conseguem chegar a consenso, pergunto-me: será tão difícil assim que os partidos políticos cheguem a consenso, não direi nas 89 propostas, mas em muitas das propostas apresentadas?”, interrogou Marcelo, que já pediu entendimentos em áreas como a segurança social, a saúde ou a educação.
Futuro em conjunto Assunção Cristas garantiu que a chegada de Rui Rio à liderança do PSD não vai alterar a estratégia dos centristas. “Da nossa parte, olhamos para o PSD sempre como um partido com quem podemos ter boas relações, com quem temos uma história já escrita em conjunto e podemos ter, certamente, um futuro escrito em conjunto”.
Cristas desejou “um bom mandato” a Rui Rio e reafirmou que o CDS estará empenhado em contribuir para construir “uma alternativa séria ao governo das esquerdas unidas”. Ainda não existe nenhum encontro marcado entre Rio e Cristas, mas a líder do CDS garante que “não “faltarão oportunidades”.