Uma aula de Direito e um puxar de galões. Foi assim que António Costa segurou ontem o seu ministro das Finanças, Mário Centeno, que se encontra sob pressão desde que o edifício onde está o seu gabinete foi alvo de buscas por parte do Ministério Público. A Procuradoria-Geral da República já esclareceu, no entanto, que não foi o gabinete de trabalho de Centeno a ser investigado.
Apesar disso, Costa foi questionado acerca das suspeitas em torno de um alegado favorecimento de Centeno a Luís Filipe Vieira, empresário e presidente do Benfica, na medida em que uma empresa deste teria visto um processo de isenção fiscal ser acelerado dias depois de o ministro das Finanças ter pedido bilhetes para assistir a uma partida de futebol do Benfica.
António Costa, que também assistiu ao jogo, diz que Centeno “em circunstância alguma” sairá do governo – arguido ou não arguido. “Não será seguramente por este caso que deixará de ser ministro das Finanças”, acrescentou, negando que as notícias dos últimos dias tenham beliscado a situação de Centeno no executivo.
O ministro das Finanças português é também presidente do Eurogrupo – a reunião informal dos ministros das Finanças da zona euro – há cerca de um mês.
Este não é o primeiro caso relacionado com idas a jogos de futebol que envolve membros do atual governo: três secretários de Estado demitiram-se em 2017 em consequência de uma investigação do Ministério Público a presenças suas em jogos do Europeu de futebol. Costa também aí separou águas, recordando que os governantes (João Vasconcelos, Rocha Andrade e Costa Oliveira) haviam saído por vontade própria. Centeno, ao que parece, não partilha da mesma intenção.
Os argumentos do primeiro-ministro flutuaram entre a natureza jurídica e a autoridade política. Por um lado, Costa desdramatiza a possibilidade de Centeno ser constituído arguido, reclamando que essa condição existe “para a defesa dos direitos dos próprios”, isto é, para serem ouvidos. “O arguido não é um culpado”, salientou.
Por outro lado, Costa fez-se valer da sua autoridade como chefe do governo para tranquilizar a posição de Mário Centeno. “Quem decide a composição do governo sou eu e eu mantenho toda a confiança”, garantiu. “Se a nossa idoneidade vale o preço de um jogo de futebol, por amor de Deus!”, acrescentou.
Esta não é a primeira vez que Mário Centeno se encontra debaixo de fogo mediático.
Antes do estado de graça que os bons resultados económicos e a presidência do Eurogrupo lhe trouxeram, Centeno viu a sua situação tremida (em particular aos olhos do Palácio de Belém) após alguma controvérsia relacionada com a nomeação – e a declaração de rendimentos – de António Domingues para a administração da Caixa Geral de Depósitos. Foi fonte próxima do executivo quem relembrou o caso ao i: “Quem sobreviveu ao ‘erro de perceção mútua’ não sobrevive a um jogo de futebol? O que seria…?”