A ministra da Cultura de Angola, Carolina Cerqueira, está desde ontem em Lisboa. Numa altura em que as relações entre Portugal e Angola atravessam a pior fase de sempre, a governante angolana deverá esta tarde encontrar-se com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na sede da UCCLA – União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa, durante uma visita a uma exposição de artistas angolanos, apurou o i junto de fontes de Belém.
A exposição que é hoje inaugurada é organizada pela UCCLA e pela embaixada de Angola – e é mais uma tentativa de normalização da relação entre os dois países, num momento em que Angola decidiu suspender “visitas ao mais alto nível”, como explicou o primeiro-ministro, António Costa, depois da recente reunião com o presidente angolano, João Lourenço, à margem do Fórum Económio Mundial, em Davos, na Suíça.
Recorde-se que é a segunda vez que, num curto espaço de tempo, o Presidente da República se encontra com uma alta figura angolana: Marcelo jantou em Lisboa, em janeiro, com a mulher do Presidente angolano, Ana Lourenço. O encontro com a primeira dama de Angola não constou da agenda oficial do Presidente, tal como o de hoje com Carolina Cerqueira.
Na inauguração da exposição estará presente a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, luso-angolana. Recorde-se que, há um ano, Van Dunen preparava-se para uma visita oficial a Angola que foi cancelada à última hora pelas autoridades angolanas – ou adiada sine die, conforme a justificação da época. Foi o primeiro sinal público do início de um período de relações difíceis entre Portugal e Angola por causa da acusação do Ministério Público ao antigo número 2 do Estado angolano, Manuel Vicente.
O i falou com o secretário de Estado da Cultura, João Constantino, que apenas confirmou que a ministra viajou para a Europa, não sabendo contudo se Carolina Cerqueira teria algum encontro com o seu homólogo português, Luís Filipe de Castro Mendes, à margem da inauguração da exposição.
A mostra, intitulada “Artes Mirabilis – Colectiva de Artistas Plásticos Angola”, tem como curador o artista plástico angolano, Lino Damião, e estará patente ao público na sede da UCCLA, na avenida da Índia, em Lisboa, até ao dia 4 de abril.
Ministra do Ambiente também vem a Lisboa
Para o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros português, António Martins da Cruz, nomeado consultor do governo angolano em 2015 e observador nas últimas eleições em Angola, “não há nada que impeça as visitas dos ministros”. Se o problema existe na relação entre os dois Estados, como o próprio António Costa admitiu, não é menos verdade que estará estritamente contido nos limites das visitas oficiais de alto nível.
“Tanto quanto eu sei as únicas coisas que estão, por enquanto suspensas, até estar esclarecido no plano judicial a questão relativa ao antigo vice-presidente da República, são as visitas de alto nível, ou seja, as visitas a Portugal do presidente de Angola e as visitas a Angola do Presidente e do primeiro-ministro de Portugal”, explica Martins da Cruz, em declarações ao i.
De acordo com o diplomata, que está atualmente em Luanda, a ministra do Ambiente angolana, Paula Francisco, “conta ir a Portugal para reuniões de trabalho até ao final do Lisboa”, demonstrando que os dois países continuam a manter relações cordiais.
Como escrevia António Costa no Twitter, “tudo decorre normalmente com uma única exceção: não haver visitas de alto nível aos respetivos países”. Isto é, as relações entre Portugal e Angola “são fraternas e insubstituíveis”, “existe só uma questão estritamente jurídica” que está a perturbá-las.
“Tirando essa exceção, que ficou bem frisada na reunião de alto nível que houve em Davos, as relações estão a decorrer normalmente”, afirmou Martins da Cruz.
Cinco milhões de dívidas
Quem também estará presente na inauguração da exposição é o embaixador de Angola em Lisboa, José Marcos Barrica, que ontem reconheceu, em declarações à Rádio Nacional de Angola, que o seu país tem uma dívida de cinco milhões para com Portugal. O valor refere-se ao tratamento de cidadãos angolanos em hospitais portugueses: “Há um esforço muito grande por parte do Estado angolano para resolver a dívida”.
De acordo com Marcos Barrica, a dívida não é só “na área clínica”, inclui ainda “o alojamento dos doentes e acompanhantes, o transporte e o subsídio que recebem mensalmente”.