Incêndios foram momento mais traumático da vida política de Costa

Os incêndios do verão e do outono foram o momento mais traumático da vida política, o comboio de alta velocidade é uma questão adiada por muito tempo, o passado é o passado, o investimento estrangeiro é decisivo e que será candidato nas próximas eleições

Em entrevista publicada ontem no diário espanhol “ABC”, o primeiro-ministro afirmou que os fogos foram “o momento mais traumático” de toda a sua vida política, acrescentando que não se “imagina a voltar a viver aquilo que ocorreu este verão”.

António Costa, que diz ter “aprendido muito com a experiência de Espanha” revela que Portugal está a “investir sobretudo na prevenção e a integrar essa prevenção com o combate aos incêndios” e que trabalha para a profissionalização da luta contra os incêndios, “ainda que isso leve tempo”.

 Ao jornal espanhol, o chefe do Governo disse ainda que o país tem problemas estruturais que se têm agravado com as alterações climáticas das últimas décadas”, que há dois anos está em “seca severa e com temperaturas muito altas” para concluir que sem “uma boa prevenção e temperaturas extremas” os resultados são “dramáticos”. 

Na entrevista, feita na passada terça-feira, quando esteve em Madrid, António Costa, questionado se seria possível o atual crescimento sem que o país tivesse passado pelos “anos duros de austeridade” do anterior Governo do PSD “encarregado de ativar as medidas impostas pela troika”, evitou responder.

“Não vou abrir uma luta sobre o passado. O passado, passado está”, afirmou, acrescentando que “o importante é que Portugal virou a página” e conseguiu o défice orçamental “mais baixo” da democracia e o crescimento “mais forte” desde o início do século, além de “começar a reduzir a dívida e o desemprego”. O líder do Executivo disse ainda que a História de um país “é algo contínuo” e que desde “Afonso Henriques até hoje, todos contribuímos para o bem e para o mal”. Segundo António Costa, “o importante é seguir em frente”.

Nos tópicos da conversa esteve também o TGV, com Costa a sentenciar que “a alta velocidade é um tema tabu na política portuguesa e vai sê-lo por muito tempo”. Para o chefe do governo, “infelizmente” houve um tempo em que a grande divisão política entre esquerda e direita era o investimento público em infraestruturas. “Também perdemos a oportunidade de fazer um novo aeroporto”, lamentou ainda Costa.

O governo socialista de José Sócrates tinha decidido avançar com o TGV e o novo aeroporto de Lisboa, mas depois da bancarrota de 2011 e com a aplicação do programa de auxílio financeiro negociado com a troika, o governo de Passos Coelho travar esses dois grandes investimentos públicos.

António Costa, que assegura que será candidato nas próximas eleições, “se gozar de boa saúde” defendeu ainda que a atração de investimento estrangeiro “é fruto de um investimento contínuo, nas últimas décadas, na qualificação profissional dos recursos humanos, sobretudo no setor dos serviços para empresas, “como a informática, o desenvolvimento de novas aplicações ou serviços financeiros”.

Segundo António Costa, Portugal tem sido sempre “uma economia muito aberto, algo normal para um país pequeno” e a estratégia de Portugal “é diversificar os investimentos, sabendo que hoje o mundo não é só a Europa”.

Costa também afirma que foram os partidos apoiantes do governo, Bloco de Esquerda (BE) e Partido Comunista (PCP), que o convenceram a tomar certas medidas fiscais, mais do que ele a convencer os partidos de esquerda.

“Em todos os nossos programas [eleitorais] estavam essas medidas e os acordos [de apoio parlamentar] levaram-nos a aplicá-las antes do esperado. Não foi um grande esforço tê-los convencido. Pelo contrário, convenceram-me mais eles a mim”, afirmou António Costa.