Sonhou com o futebol 11 e chorou com a rejeição. Hoje em dia já recusou convites vindos de Portugal, Espanha ou Holanda. Venceu maratonas e chegou a dedicar-se ao atletismo de forma profissional durante vários anos. Desportista nato, foi da humildade, do foco, e da exigência de Ricardinho que se fez um campeão.
«Sou muito exigente comigo em todos os sentidos. Na preparação do treino, no treino, após treino e na preparação para o jogo. Por isso, tento cada ano que passa ser o melhor em tudo, porque sei, que sendo o melhor, estou mais próximo de ajudar a minha equipa em todos os sentidos, a ganhar, a crescer, e a fazer história, mas como sempre digo, sozinho não se ganha títulos. Quero continuar a ser uma referência nesta modalidade e a contribuir para a história da mesma», adiantou numa entrevista ao i em julho do último ano. O objetivo foi cumprido sete meses depois, na Eslovénia. «O que fizemos pelo futsal é histórico». No passado domingo, estas foram as primeiras palavras quando aterrou no Aeroporto de Lisboa com a Taça dos Campeões da Europa no colo.
Para aquele que já foi eleito por cinco vezes o melhor jogador do mundo (2010, 2014, 2015, 2016 e 2017) está longe, tão longe, de importar o facto de ter vencido o único título que ainda lhe faltava no curriculum. Como sempre, não se cansa de relembrar que a união e o trabalho de equipa foram os ingredientes da receita secreta que permitiram que, no passado dia 10 de fevereiro, a seleção nacional finalmente passasse do sonho à realidade. Depois da receção apoteótica no regresso a Portugal, na terça-feira voltou a ser homenageado, desta feita na cidade que o viu crescer. Até que enfim o reconhecimento merecido, e em falta, do concelho que, tal como o futsal, Ricardinho levou para um outro patamar. Em Gondomar, entre lágrimas, o capitão voltou a reforçar: «não fiquem com reconhecimento só ao Ricardinho, mas sim a Portugal, que foi quem ganhou o troféu». Foi ali, no Porto, onde agora terá um Pavilhão com o seu nome, que aos 14 anos a aventura no futebol de salão começou, depois da recusa por parte do desporto-rei devido à sua baixa estatura. Do Gramidense (Valbom-Gondomar) à breve passagem pelo Miramar (Vila Nova de Gaia), tornou-se titular indiscutível no Benfica. Além fronteiras passou pela liga japonesa (Nagoya Oceans), russa (CSKAMoscovo) e espanhola, onde ainda se encontra a representar o Inter Movistar. A conclusão dos vários capítulos desta história é sucesso puro: foi campeão em todos os clubes por onde passou quebrando a hegemonia de eternos rivais como o Sporting, na liga portuguesa, ou o Barcelona, crónico vencedor da liga vizinha até 2013.
Mágico! Não fosse precisamente essa a sua alcunha, embora primeiramente adquirida devido à sua habilidade em truques com cartas. Porém, seria com as invenções tiradas dos seus pés, em que vai buscar inspiração a vídeos de freestylers, hóquei em patins, basquetebol ou andebol, que ficaria para sempre com o nome inscrito na história do desporto nacional.
Aos 32 anos, Ricardinho chegou, viu e venceu, e assim promete continuar até onde o corpo o permitir.Será ele a decidir quando chegar o momento de ceder o lugar a alguém com mais disponibilidade e capacidades, como o próprio já garantiu. E nessa altura poderá ir descansando. Afinal, está cumprido o maior desafio a que se tinha proposto: colocar a modalidade a que se dedicou toda a vida no topo da Europa e em destaque na imprensa.
Não falta nada. Ou talvez ainda falte. Há um sonho por cumprir, o sonho de regressar aos encarnados do Benfica, casa em que alinhou durante sete anos (entre 2003 e 2010), e ser apresentado no estádio da Luz – um desejo que Ricardinho confessou ter na mesma entrevista.