Após o PCP, foi o Bloco de Esquerda a cair na armadilha

Pedro Filipe Soares deixou um aviso claro ao PS: não quer que este se torne na “muleta de recuperação do PSD”

Apesar da grande contestação interna que sofre no interior do PSD, a estratégia de Rui Rio, de aproximar os sociais-democratas do PS para causar problemas na “geringonça”, está rapidamente a dar frutos. Primeiro, foi o PCP, pela voz do secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, a avisar que um entendimento entre o PS e o PSD seria uma “traição” aos portugueses. Hoje, segunda-feira 26 de fevereiro, foi o Bloco de Esquerda a cair na esparrela. Isso é demonstrado pela entrevista que o líder parlamentar do BE, Pedro Filipe Soares, deu à TSF, e da qual o Jornal de Negócios transcreve alguns excertos.

Em primeiro lugar, nota-se que o BE e o PCP estão basicamente de acordo entre eles no que diz respeito à política económica: os problemas do país seriam resolvidos se gastássemos dinheiro como se não houvesse amanhã. Isto, essencialmente, é uma falácia, porque nada garante que esse excesso de despesa pública não fosse canalizado para importações (e uma parte certamente que é), não tendo qualquer efeito positivo no tecido produtivo nacional. Para além disso, o facto de Portugal ter a terceira maior dívida pública (em percentagem do PIB, o total da produção do país) da União Europeia parece não incomodar minimamente os partidos de extrema-esquerda. Todavia, esta elevada dívida pública existe, e é preciso pagar os respetivos juros, desviando esse dinheiro do investimento do Estado, ou, em alternativa, de baixar os impostos, estimulando por essa via os investimentos produtivos de que Portugal desesperadamente precisa para se tornar um país mais competitivo, provocando desse modo uma melhoria sustentada do nível de vida dos residentes.

Para além desta estratégia económica errada, e segundo o que leio no Jornal de Negócios, Pedro Filipe Soares deixou um aviso claro ao PS: não quer que este se torne na “muleta de recuperação do PSD. Na opinião do Bloco de Esquerda, não acreditamos que tenham qualquer coisa de positivo a acrescentar. Claramente este PSD ainda é do passado”. E assim arruma a questão.

E isto ainda mal começou: o congresso do PSD foi na semana passada e, em termos concretos, os resultados traduziram-se apenas numa longa reunião entre Rui Rio e António Costa, e na nomeação de grupos de trabalho dos dois partidos para discutirem a descentralização administrativa e a futura aplicação de fundos europeus. Imagine-se o dia em que PS e PSD cheguem a um acordo qualquer sobre uma questão estrutural para Portugal: certamente que cairão o Carmo e a Trindade na extrema-esquerda portuguesa, que parece estar a habituar-se rapidamente à recente situação de poder influenciar o poder, e a gostar da experiência.

Esta nova estratégia do PSD, de se aproximar do PS para causar dificuldades à coligação que sustenta o governo, parece pois, e à primeira vista, acertada, e mais eficaz do que a anterior estratégia dos sociais-democratas, que era a de ser contra quase tudo o que vinha dos socialistas. Por isso, Rui Rio já está de parabéns. Aliás, subestima-lo é um erro grave: que o digam Fernando Gomes ou Pinto da Costa.