A ajuda humanitária chegou esta segunda-feira aos bairros fustigados de Ghuta Oriental pela primeira vez desde que o regime avançou com intensidade invulgar e mortífera sobre o enclave rebelde nos arredores de Damasco. Contudo, a ajuda não chegou nas condições que desejavam as organizações humanitárias responsáveis que operam na guerra civil, apesar dos atrasos sucessivos e promessas fracassadas de cessar-fogo.
Setenta por cento das ajudas médicas à população cercada foram alegadamente intercetadas pelo governo sírio à entrada dos bairros rebeldes, assim como alimentos para dezenas de milhares de pessoas. Os veículos que entraram nas ruas cheias de escombros fizeram-no, além disso, sob fogo de rockets e morteiros que caíram muito perto das viaturas.
O alto responsável da ONU no terreno avançava esta segunda à Reuters que o regime recusou a entrada de comida para 70 mil pessoas, tal como ficara negociado. Em vez disso, o governo autorizou apenas o envio de alimento para 27,5 mil pessoas, uma redução drástica tendo em conta que em Ghuta Oriental vivem 400 mil pessoas – metade é menor idade –, cercadas há anos, que hoje têm acesso difícil a comida, água potável e cuidado médico.
Os caças sírios e russos atingiram mataram mais de 700 pessoas nas duas últimas semanas e inutilizaram muitas das clínicas subterrâneas de ajuda médica, mas também neste ponto Damasco interveio: um responsável da Organização Alimentar Mundial assegura que 70% do material médico foi travado, incluindo kits de cirurgia e insulina.
À medida que Assad corta na ajuda humanitária, o seu exército avança no terreno e continua a bombardear com intensidade, mesmo nas horas em que o governo russo promete pausas humanitárias. O Observatório Sírio dos Direitos Humanos, ligado à oposição armada e que opera à distância, no Reino Unido, afirmava esta seguda-feira que o regime capturou um terço de Ghuta Oriental só nos últimos dias.
O governo de Assad, por seu turno, avançava no domingo que quase metade do território rebelde está nas sua mãos e enviou vários correspondentes da televisão estatal em reportagem para pontos recém-capturados.
O regime está prestes a infligir a mais paralisante derrota à oposição armada desde que reconquistou Alepo em finais de 2016, praticamente assegurando-se nesse momento a sobrevivência de Bashar al-Assad. A estratégia militar para o norte do país repete-se hoje nos bairros de Ghuta Oriental: bombardeamentos de violência intermitente, polvilhados com alguma ajuda humanitária. Esta segunda-feira, no vai-e-vem dos grandes ataques aéreos, o Observatório Sírio registou a morte de 45 pessoas e os ferimentos de 190.