O setor da energia a falar com o setor da floresta, a criação de centrais de biomassa para aproveitamento dos recursos florestais e, sobretudo, criar vantagens económicas no investimento nas energias renováveis, essa é a visão que Salvador Malheiro, o presidente da Câmara de Ovar e diretor de campanha de Rui Rio nas eleições do PSD, tem para o ambiente.
“Temos de apostar no aproveitamento energético de resíduos florestais” porque “nos permitem atacar todos os vetores da sustentabilidade”, defendeu o novo vice-presidente do PSD na sua conferência de sexta-feira no International Club of Portugal.
Sublinhando várias vezes estar a veicular uma opinião pessoal que não vincula em nada o partido de que agora é dirigente, Salvador Malheiro defendeu que “temos de pôr o setor das florestas a falar a mesma linguagem do setor das energias”, algo que, disse, “nunca foi possível até hoje”.
Embora sejam “linguagens que não permitem um diálogo profícuo”, é preciso que se entendam para que seja possível criar centrais de biomassa, algo que Salvador Malheiro considera importante por ser um vetor fundamental para “conseguir tirar partido” do setor florestal “não só para a economia, mas também para o ambiente e a questão social”.
“Tem de valer a pena as pessoas limparem as florestas e receberem o preço justo pelo trabalho que estão a efetuar”, sublinhou. “Com isso, nós estamos a atacar também o vetor económico, com a produção de energia”, disse o presidente da Câmara de Ovar, que é engenheiro mecânico, especialista em bioenergia e professor universitário.
Com vários deputados na sala – entre eles o líder da bancada do PSD,Fernando Negrão, e o secretário-geral do partido, Feliciano Barreiras Duarte –, Salvador Malheiro defendeu que o Estado deve reduzir a sua presença no setor à regulação e fiscalização, criando o ambiente propício para que estes investimentos no setor ambiental possam concretizar-se.
“Além de termos de apostar em centrais [de biomassa] onde exista recurso florestal, mas também disponibilidade de rede para a injeção dessa energia elétrica, temos também de ter uma dimensão mínima das mesmas que permita a rentabilidade das instalações”, afirmou. “As centrais têm de ser rentáveis, temos de ter investidores que tenham vontade, interesse e lucro para poderem investir”, acrescentou.
Insistindo muito na ideia da coragem para tomar decisões políticas nestas questões, Salvador Malheiro aproveitou a ocasião para lembrar que continuamos a ter em Portugal “preços de energia que são elevados” e que, por isso, “é preciso combater os grandes lóbis do setor energético”.
“Temos de ter a coragem, a ousadia e a firmeza de olhar para esta matéria sem ceder aos interesses instalados”, disse, antes de lembrar que a Galp “nunca alinhou” no pagamento das contribuições extraordinárias sobre a energia, as chamadas CESE, e “que agora a EDP está também a tentar fugir dessa responsabilidade”. Admitindo que o antigo secretário de Estado Henrique Gomes, no governo de Passos Coelho, “tentou negociar sobre tudo isto e não conseguiu”, o vice-presidente do PSD considera que “tem de haver uma política forte de alguém que não ceda sobre esta matéria”.