Foram precisos 34 anos de democracia para uma mulher chegar à liderança de um dos grandes partidos. Manuela Ferreira Leite venceu as eleições internas no PSD, em 2008, contra Pedro Passos Coelho e Pedro Santana Lopes e tornou-se a primeira mulher a dirigir o PSD e um partido político.
A primeira e a única. O PSD, desde que foi fundado, em 1974, já teve 18 presidentes, mas apenas uma mulher. O cenário não é muito diferente nos restantes partidos. O PS já conheceu oito lideres, mas todos homens. O CDS tem pela primeira vez na sua história uma mulher na liderança, após seis presidentes do sexo masculino. À esquerda, o PCP nunca teve uma mulher à frente do partido e o Bloco de Esquerda, que só nasceu em 1999, é liderado por Catarina Martins, primeiro em conjunto com João Semedo e depois a solo, há quase seis anos.
Contas feitas, PSD e PS juntos já tiveram 26 líderes e apenas uma mulher. Os cinco maiores partidos conheceram quase 40 lideranças, mas apenas três mulheres. Manuela Ferreira Leite, Catarina Martins e Assunção Cristas foram as três que conseguiram fazer a diferença num país em que a política ainda é dominada pelos homens.
Assunção Cristas, que foi eleita presidente dos centristas há dois anos, admite que “seria bom se já tivéssemos um histórico de mais mulheres na liderança. Sinto sempre que nós somos poucas e precisamos de mais”. Em declarações ao i, Cristas conta que não é raro fazerem-lhe perguntas que não fazem aos homens: “há perguntas que me fazem a mim e não fazem aos homens, isso não é irrelevante. Colocam-me muitas vezes a questão de como é que concilio o trabalho com a família. Costumo dizer que só respondo a essa questão quando começar a ouvir os homens a responder à mesma pergunta. A questão é, de facto, importante, mas não é só para a mulher”.
A líder do CDS tem a esperança de que se venha a tornar “perfeitamente natural”, no futuro, uma mulher ocupar cargos de liderança nos partidos políticos, mas confessa que nem sempre é fácil encontrar mulheres para os órgãos dirigentes. “Para os homens há o trabalho e a seguir a política. No caso das mulheres há o trabalho e depois ainda há as questões da casa, da família, dos filhos, e a seguir é que aparece a política”.
Ainda temos poucas mulheres
PS e PCP nunca tiveram nenhuma mulher na liderança. A socialista Edite Estrela desdramatiza: “ainda não foi possível, mas há de ser um dia”. O PS tem, porém, como número dois Ana Catarina Mendes, que ficou responsável pelas tarefas do partido com a ida de António Costa para o governo. Edite Estrela admite que “ainda temos poucas mulheres nos lugares cimeiros da política” e acredita que a solução passa por “continuar com medidas de discriminação positiva para que consigamos ter uma sociedade mais igualitária, onde mulheres e homens tenham as mesmas oportunidades”. A deputada do PS destaca o contributo da lei das quotas femininas, aprovada em 2006, que fez com que existam mais mulheres no parlamento e nas autarquias.
mulheres no parlamento Dos 230 deputados, na Assembleia da República, 75 são mulheres, o que corresponde a 33%. Os socialistas 59 homens e 27 mulheres. O Bloco de Esquerda tem 13 homens e seis mulheres e o PCP tem nove homens e seis mulheres. À direita, o PSD tem 28 mulheres na sua bancada de 89 deputados e o CDS conta com 11 homens e sete mulheres.
No entanto, a verdade é que o cenário atual é muito diferente, evoluiu, e favorece agora a entrada das mulheres na política. O I governo constitucional, liderado por Mário Soares, não tinha nenhuma mulher entre os 17 ministros. O atual governo, liderado por António Costa, também tem 17 ministros, mas três são mulheres. Maria Manuel Leitão Marques, como ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Francisca Van Dunem, na pasta da justiça, e Ana Paula Vitorino que está à frente do ministério do Mar.
Apenas uma mulher, até hoje, chegou à chefia do governo. Maria de Lourdes Pintasilgo foi primeira-ministra em 1979, mas sem passar pelas urnas, já que foi indigitada pelo então presidente Ramalho Eanes a formar o V governo constitucional, tendo exercido o cargo de julho de 1979 a janeiro de 1980. Curiosamente foi a terceira mulher na Europa no cargo de primeira-ministra, depois da croata Savka Dabcevic-Kucar e da britânica Margaret Thatcher, que assumiu funções dois meses antes.