O exército turco e um grupo de rebeldes sírios emagrecido até quase à irrelevância conquistaram Afrin, uma das principais cidades do norte da Síria e, até este domingo, um bastião do movimento armado curdo que floresceu com a guerra civil. A cidade trocou de mãos praticamente sem sangue, salvo pela explosão de algumas minas e disparos de atiradores furtivos.
Dezenas de milhares de residentes fugiram nas últimas semanas e as milícias curdas acataram as ordens de retirada. Trata-se do fim da pequena invasão iniciada pela Turquia em janeiro, alegadamente para libertar Afrin das mãos de terroristas. A justificação é no mínimo duvidosa: grande parte dos observadores afirma que a Turquia entrou no norte da Síria para garantir que os curdos não se estabelecem com firmeza ao longo da sua fronteira sul e fortalecem o seu próprio movimento separatista.
As tropas turcas foram auxiliadas no terreno pelo Exército Livre da Síria, outrora o principal grupo da oposição armada ao regime de Bashar al-Assad. Ao fim da manhã local, soldados turcos e militantes sírios erguiam as suas bandeiras no edifício do governador de Afrin e faziam tombar a estátua de Kawa, o ferreiro, uma personagem importante na mitologia curda e, aos olhos dos grupos armados em retirada, a prova de que a invasão turca não é o que o seu governo patrocina.
“Esta manhã, às 8h30, o centro da cidade de AFrin foi conquistado por membros do Exército Livre da Síria, apoiados pelo nosso exército turco”, afirmou o presidente Recep Tayyip Erdogan, em Gallipoli. “Grande parte dos terroristas já havia escapado com as caudas entre as pernas”, lançou.
As milícias curdas preservam vastos territórios no norte e leste do país, onde operam em coligação com os Estados Unidos na luta ao quase defunto Estado Islâmico – Washington critica severamente a incursão de Ancara. O regime sírio tolera para já os seus domínios e em alguns casos oferece até ajuda, como ocorreu em Afrin, para onde Asad enviou milícias para combaterem uma invasão turca que o regime também não deseja.
Todavia, Damasco preocupa-se por estes dias com o enclave rebelde de Ghuta Oriental, onde estão em curso negociações para uma rendição dos grupos armados locais. Os curdos, por sua vez, garantem que a queda de Afrin não acabará com as suas ambições de autonomia no pós-guerra e afirmam, além disso, que o conflito na cidade continuará na forma de conflito de guerrilha, como o que a Al-Qaeda travou contra os EUA no Iraque.
“Temos forças presentes em toda a geografia de Afrin”, afirmou este domingo na televisão Othman Sheikh Issa, co-presidente do concelho municipal fugido. “Estas forças atacarão as posições do inimigo turco e as dos seus mercenários a cada chance.”