A margem de manobra de Feliciano Barreiras Duarte tinha-se vindo a reduzir a tal ponto que já ninguém questionava se se iria demitir, apenas se tentava adivinhar a data. E era provável que deste domingo não passasse, e não passou. Ao final da tarde de ontem chegava o comunicado às redações. Dez pontos em quase página e meia de lamentos pela “violência inusitada” dos ataques contra si e a sua família e a assunção de que, através dele, os adversários queriam era atingir Rui Rio.
“Face à violência inusitada dos ataques e aos efeitos para mim e a minha família, atingimos o limite: por isso apresentei ao presidente do meu partido o pedido irrevogável de demissão – tão irrevogável que já está concretizada – de secretário-geral do PSD”, lê-se no ponto cinco.
Atribuindo a si próprio o papel de vítima – por ter sido alvo dos ataques dos que dentro do PSD queriam atingir Rio -, Barreiras Duarte entrega a sua cabeça de bandeja pelo bem do partido: “Tenho perfeita consciência, como qualquer observador minimamente atento, de que não sou eu o alvo, mas sim o líder do meu partido e a sua direção; por isso ficar seria avolumar o problema e não contribuir nada para a solução.”
Marques Mendes, ontem no seu habitual comentário político na SIC, colocou os pontos nos ii: “A responsabilidade primeira é de Feliciano Barreiras Duarte. Falsificou o currículo. O erro é dele. É uma saloiice, uma batotice. Já não tinha condições para ser secretário-geral.”
Sem margem de manobra política, pressionado dentro do partido, mesmo entre aqueles que se identificam com Rio, só restava mesmo a Barreiras Duarte abrir a porta e sair ou corria o risco de ver o líder a abrir-lhe a porta.
“Conversei com o Dr. Rui Rio e manifestei-lhe a minha vontade de deixar o cargo de secretário-geral do PSD, tendo em conta os ataques de que estava a ser alvo e os efeitos desses no seio da minha família; o Dr. Rui Rio manifestou-me o seu apoio e solidariedade, tendo compreendido e aceite todos os meus argumentos”, acrescenta o agora ex–secretário-geral do PSD.
Garantindo que toda a polémica em torno do seu currículo não tem razão de ser, nomeadamente sobre o facto de nunca ter sido visiting scholar na Universidade da Califórnia em Berkeley, apesar disso constar no seu currículo, como noticiou o semanário “Sol”, Barreiras Duarte sublinha que o seu “percurso académico é claro e constitui a coluna vertebral” da sua vida. O seu percurso académico foi todo feito na Universidade Autónoma de Lisboa, numa licenciatura com 11 valores, um mestrado com 18 valores e um doutoramento que está a realizar.
“Não há, como foi criminosamente sugerido, quaisquer paralelismos com situações de falsas licenciaturas, feitas por equivalências [em referência a Miguel Relvas], ou licenciaturas feitas ao domingo [em referência a José Sócrates]”, embora nada diga sobre o facto de a Universidade Autónoma estar a investigar se Barreiras Duarte teria ou não direito de obter a dispensa das aulas do doutoramento.
O deputado do PSD prefere falar em imprudência por manter no currículo a referência à Universidade da Califórnia em Berkeley [na sua resenha biográfica aparecia como Universidade Pública de Berkeley]: “Terei sido imprudente manter tanto tempo essa referência, sem ter uma renovação formal do estatuto, mas a inscrição é sempre foi verdadeira, a universidade informou-me que estava inscrito”, sublinhou o deputado, que garante estar de consciência tranquila pois não tirou “qualquer proveito da Universidade de Berkeley – nem financeiro, nem de grau académico, nem profissional, nem político.”
No comunicado, Barreiras Duarte também se refere à questão da morada falsa entregue no parlamento para poder beneficiar das ajudas de custo pelo facto de morar no Bombarral quando vivia em Lisboa, tal como noticiou o “Observador”.
Chama-lhe acusação “torpe e estulta” e garante que “é essencial uma clarificação total sobre as regras dos benefícios e ajudas de custo aos deputados” e, por isso, vai entrar com um requerimento ao presidente da Assembleia da República para o efeito.