O governo garante estar a tomar medidas para que não se repita em 2018 a tragédia dos incêndios de junho e outubro passados. “Estamos a fazer tudo para que este ano seja diferente”, declarou ontem o ministro Eduardo Cabrita num debate que serviu para anunciar o que está a ser feito, mas não para esclarecer o que correu mal em 2017.
Concentrado no futuro, o ministro da Administração Interna explicou que as medidas que o governo está a adotar seguem as recomendações da comissão técnica independente que analisou os incêndios de outubro. “A comissão técnica independente é aqui uma referência para o governo, que assume o compromisso de realização da linha essencial das medidas propostas”, afirmou Eduardo Cabrita, que anunciou o que já está a ser feito.
Meios reforçados No que toca a meios de combate, Cabrita diz que estão a ser a ser criadas “oito dezenas de equipas profissionais de bombeiros” e que serão adquiridas por ajuste direto 240 viaturas ligeiras e pesadas, das quais 40 vão para o Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS) e para o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR, 80 destinam-se aos corpos de bombeiros e 20 à Força Especial de Bombeiros (FEB).
Mas não foi só Eduardo Cabrita que quis deixar a garantia de que o governo está a trabalhar para que a tragédia do ano passado não se repita. Capoulas Santos apontou a contratação de 500 sapadores, o reequipamento de 40 equipas e as novas equipas de sapadores das comunidades intermunicipais, além dos 26 parques de receção e armazenamento de madeira queimada, para mostrar trabalho no que toca à prevenção dos incêndios florestais.
Gestão pública “Estou certo de que (…) estão criadas as condições para que o ano trágico de 2017 se não volte a repetir”, afirmou Capoulas, que anunciou que a Empresa Pública de Desenvolvimento e Gestão Florestal está em fase final de constituição e vai ter sede em Figueiró dos Vinhos. Para o ministro, esta empresa terá o papel de “demonstrar como pode ser profissionalmente gerida a floresta, como pode dar rendimento e como se pode prevenir os incêndios”.
Aquilo que Capoulas Santos e Eduardo Cabrita foram ontem dizer ao parlamento esteve, contudo, longe de satisfazer a oposição. PSD e CDS gostavam de ter visto o executivo a dar explicações sobre o que falhou em 2017 e criticaram o que consideram ser a “propaganda” governamental montada em torno das ações de limpeza da floresta, nas quais participaram todos os ministros.
Oportunidade perdida “Perdeu oportunidade de dizer quem nos diz a verdade”, atirou o centrista Telmo Correia ao ministro Eduardo Cabrita, depois de este não esclarecer a polémica entre o ex-secretário de Estado da Administração Interna, que garantiu haver falhas no relatório da comissão independente, e o ex-segundo comandante nacional da Proteção Civil, que acusou o governo de não ter aprovado os pedidos de reforço de meios feitos pela ANPC.
“Foi a incompetência no ataque inicial aos incêndios que permitiu que eles se tornassem incontroláveis. Foi tudo isto que levou as populações a ficarem entregues a si próprias. A floresta e os seus proprietários mereciam mais. Não mereciam o aproveitamento político eleitoral que se está a tentar alcançar. Importa assumir todas as suas responsabilidades”, atacou o social-democrata Maurício Marques, acusando o governo de não responder “a perguntas difíceis” sobre a falha no reforço de meios.
Para Maurício Marques, este executivo tem ainda mais responsabilidades quando se percebe quem teve responsabilidades políticas na Administração Interna e na gestão da floresta nas últimas décadas. “Quiseram fazer crer que tudo se deveu às condições excecionais, mas nunca houve fogos destas dimensões. E quem foram os governantes que nos últimos 40 anos mais tutelaram as pastas da Agricultura e Administração Interna? António Costa, Eduardo Cabrita e Capoulas Santos”, frisou o deputado do PSD.