O presidente sul-coreano afirmou esta quinta-feira que o ditador vizinho não tem exigências insuportáveis para fazer quando se encontrar com Donald Trump e que Kim Jong-un está a falar a sério quando se diz disposto a abrir mão de todas as armas nucleares pelas quais o regime pagou com décadas de pobreza e isolamento mundial.
As declarações de Moon Jae-in passam a responsabilidade de um possível fiasco do encontro entre Trump e Kim para os americanos, que, como a grande maioria dos líderes, suspeitam que Pyongyang tem condições que Washington não está disposto a pagar quando os seus líderes se encontrarem, em finais de maio ou inícios de junho.
“Não acho que o termo ‘desnuclearização’ tenha significados diferentes para o Sul e Norte”, disse o líder coreano num encontro com jornalistas. “Eles não estão a associar condições que os Estados Unidos não podem pagar, tal como a retirada das tropas americanas da Coreia do Sul”, prosseguiu Moon. “Tudo o que discutem está relacionado com o fim das políticas hostis contra a Coreia do Norte, e com uma garantia de segurança.”
Pyongyang já havia prometido discutir a desnuclearização total na península, Pela primeira vez, porém, assegura que o objetivo não é a saída dos 28,5 mil militares americanos estacionados na Coreia do Sul, que há muito considera que representam a vontade de Washington em acabar com o regime e ocupá-lo por um sistema mais ameno a ocidente.
Moon não detalhou esta quinta-feira mais sobre as sensibilidades norte-coreanas, mas afirmar que nenhuma das condições de Kim é insportável para os EUA é quase o mesmo que dizer que Pyongyang não pretende também que os americanos retirem as suas ogivas nucleares da região. Moon, em todo o caso, joga por estes dias por um bom encontro entre as duas coreias, que arrancará no dia 27 de abril, e servirá como preâmbulo à cimeira americana.
O líder de Seul, por outras palavras, pode estar disposto a suavizar o caminho. “A cimeira intercoreana tem de ser um bom primeiro passo”, afirmou esta quinta na capital.
Passo rápido
Coreia do Norte e EUA dão já passos a toda a velocidade nos bastidores.
A Casa Branca confirmou esta semana que Mike Pompeo, o novo secretário de Estado americano, viajou já a Pyongyang e encontrou-se lá com Kim Jong-un, naquele que foi já o contacto diplomático a mais alto nível entre os dois países desde um encontro semelhante, em 2000, ano em que Madeleine Albright negociou com o Kim anterior.
Qualquer que tenha sido a conclusão de Pompeo, considerado uma voz agressiva em temas de apaziguamento diplomático, Donald Trump parece ter ficado satisfeito, e na quarta-feira afirmou que o encontro bilateral é para avançar.
“Como sabem, encontrar-me-ei com Kim Jong-un nas próximas semanas para discutir a desnuclearização da península coreana”, afirmou o presidente americano no seu resort de golfe da Florida, acrescentando pela primeira vez o termo “península” e indicando que Washington pode estar disposto a remover também de lá os seus mísseis.
“Espero que essa reunião seja um sucesso e estamos muito entusiasmados com ela”, acrescentou, dizendo, contudo, que está disposto a abandoná-la caso as promessas de Kim não sejam as desejadas.
“Se, estando lá, [os encontros] não forem proveitosos, abandono respeitosamente a reunião e continuaremos a fazer o que estamos a fazer, ou continuaremos com outra coisa qualquer: alguma coisa acontecerá.”