Não é Sob o Trópico de Câncer, como recitava Vinícius, mas perde-se já na poeira atómica que se acumula na cúpula do mundo; nem Sob o Signo de Capricórnio, como Alfred Hitchock (com Ingrid Bergman e Joseph Cotten). É Sob o Signo do 7, mais ao jeito de Blake e Mortimer.
Sete: convenhamos que, num dérbi, sobretudo este dérbi de todas as emoções que tem sido o Benfica-Sporting ou Sporting-Benfica, para o caso tanto faz, levar sete deixa mossa, magoa por dentro, é de um homem morrer de enfarte na bancada ou em frente da televisão. E, no entanto, já houve um sete para cada lado, curiosamente com quase quarenta anos de distância pelo meio.
O dérbi de Lisboa e de Portugal habituou-nos a ser um dérbi de golos.
Golos e golos e golos.
Nove-golos-nove: é este o máximo atingido num Benfica-Sporting. Em qualquer um deles, seja para que competição for, mesmo nos amigáveis.
Houve um de 5-4 para o Campeonato Nacional, em 1944.
Houve esse dos 7-2, também para o Campeonato Nacional, em 1946.
Houve outro de 5-4 para a Taça de Portugal, em 1952.
Houve o dos 6-3 para o Campeonato Nacional, em 1994.
Interessa-nos o dos 7-2. 23.ª jornada do Campeonato Nacional de 1945-46, no Campo Grande, casa dos encarnados. Prova para sempre marcada na história do futebol em Portugal: Belenenses campeão. Benfica em segundo; Sporting em terceiro.
A 28 de abril de 1946 dá-se essa inacreditável vitória encarnada por 7-2.
Pois sabem vocês qual era o resultado ao intervalo? Zero-a-zero!
Isso mesmo. Zero-a-zero. E, depois, em 39 minutos, explodiu o dique dos golos: nove.
Hat-tricks houve dois. De Arsénio e Mário Rui.
Equipas boas, equilibradas. No Benfica: Martins; Jacinto, Cerqueira e Artur Teixeira; Moreira e Francisco Ferreira; Mário Rui, Arsénio, Júlio, Joaquim Teixeira e Rogério, dito Pipi. No Sporting: Azevedo; Cardoso, Manuel Marques e Lourenço; Veríssimo e Barrosa; Jesus Correia, Cordeiro, Peyroteo, Albano e Cruz.
Golos, golos e golos…
O enorme Azevedo sofrer sete golos??? Parecia impossível.
Todos em catadupa, logo a abrir o segundo tempo: 1-0 por Arsénio (46m); 2-0 por Mário Rui (51m); 3-0 por Rogério (58m); 3-1 por Albano (68m); 4-1 por Arsénio (69m); 5-1 por Mário Rui (72m); 6-1 por Arsénio (77m); 7-1 por Mário Rui (82m); 7-2 por Peyroteo (83m).
Doloroso, pois então.
A vingança sportinguista viria numa tarde de chuva, em Alvalade. E dela já há mais gente que se recorde. Eu recordo-me bem: estava lá.
Manuel José Tavares Fernandes. Um bom amigo. Foi imenso.
14 de dezembro de 1986: uma tempestade de golos desfez o Benfica.
Sete-golos-sete.
E apenas 1-0 ao intervalo, golo de Mário Jorge.
Choveu sobre Lisboa. E choveu sobre a equipa encarnada.
Choveu Manuel Fernandes, que marcou o primeiro aos 50 minutos. Respondeu Wando, aos 59, fazendo 1-2. Meade e Mário Jorge, aos 65 e 68 minutos, selam a vitória do Sporting.
Mas faltava ainda chover Manuel Fernandes: 5-1 aos 71 minutos; 6-1 aos 82 minutos; 7-1 aos 86 minutos.
Nunca o Benfica sofrera tantos golos do Sporting. Já tinha sofrido cinco, já tinha sofrido seis. Sete é que nunca. Silvino perdido numa baliza sem fundo.
E, no entanto, o Benfica seria, nessa época de 1986-1987, campeão nacional, com 11 pontos de avanço sobre o Sporting.
Malhas que a ironia tece…
A sua única derrota foi tonitruante: 1-7. Um signo…