Rosado Fernandes. Morreu o rústico erudito

Traduziu Tucídides e Horácio, foi ao pescoço de um colega eurodeputado. O “anticomunista universitário” morreu aos 83 anos

O erudito doutorou-se em Filologia Clássica em 1962 com uma tese sobre “O tema das Graças na Poesia Clássica” e ocupou aos 40 anos a cátedra de Língua e Literatura Gregas. O rústico, que teve as terras da família no Alentejo ocupadas durante a Reforma Agrária, foi o fundador da Confederação Nacional de Agricultores Portugueses e o deputado de humor ácido do CDS no Parlamento Europeu e depois na Assembleia da República. 

Raul Miguel Rosado Fernandes, que morreu ontem aos 83 anos, intitulou a sua autobiografia “Memórias de um Rústico Erudito”. É sua a frase: “Não sou um anticomunista primário. Sou um anticomunista universitário”. O rústico era truculento – e não só com os opositores comunistas, que lhe devolviam os ataques acusando a CAP de ser “representante da CIA em Portugal”. O erudito, que sempre teve a franqueza do rústico na vida pública, correspondeu-se com Jorge de Sena e José Rodrigues Miguéis, traduziu do grego Tucídides e Horácio. 

Em texto publicado no Público, em 2008, quando estava a traduzir a História da Guerra de Peloponeso, escrevia: “Perguntar-me-ão muitos cidadãos deste país, e alguns com cultura que baste, mas quem é esse Tucídides? (…) É um cidadão ateniense que escreveu uma História da Guerra do Peloponeso. (…) Pertencia à aristocracia ateniense e como historiador reforça a visão racional da história’”. Raul Miguel Rosado Fernandes escreveu inúmeros ensaios de estudos clássicos. Bom garfo e gastrónomo, também gostava de ler livros de cozinha.  

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