Os funerais para os palestinianos ontem mortos pelos militares israelitas começaram hoje a ser preparados pelos familiares, mas uma nova atualização subiu o número de mortos para 58, com mais de 2500 feridos, entre os quais dezenas com gravidade. Entre os mortos encontra-se um bebé de oito meses por inalação de fumo, mas também médicos e jornalistas.
Um jornalista da Al-Jazeera, Wael Dhadouh, foi baleado com balas reais pelos militares israelitas enquanto cobria os protestos, ficando ferido com gravidade.
Em declarações ao "The Guardian", Khaled Batch, um dos membros de um comité que organiza os protestos em Gaza, disse que o dia de hoje será dedicado a enterrar os mortos, sugerindo não saber de planos para novos protestos no decorrer do dia.
Ontem, foi o dia mais sangrento para os palestinianos desde 2014, quando Israel avançou com a Operação "Margem Protetora" durante sete semanas, causando a morte de 2300 pessoas e ferindo mais de 17 mil, com bombardeamentos áereos e envio de forças terrestes.
As reações internacionais aos atos cometidos pelas forças armadas israelitas não se fizeram esperar. Emmanuel Macron, presidente de França, condenou a "violência das forças armadas israelitas contra os manifestantes" numa conversa telefónica com o presidente palestiniano, Mahmoud Abbas, e com o Rei Abdullah II da Jordânia. O presidente gaulês criticou ainda a decisão norte-americana de instalar a embaixada em Jerusalém.
Já a Turquia anunciou que iria ordenar o regresso dos seus embaixadores em Washington e Telavive, com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, a referir-se aos atos israelitas como "genocidas". Também a África do Sul deu ordens ao seu embaixador em Israel para regressar em protesto pela "violenta agressão levada a cabo pelas forças armadas israelitas".
O Kuwait pediu uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU e propôs uma declaração de condenação e de pedido de uma investigação à morte dos 58 palestinianos, mas Washington recusou a declaração e apoiar a proposta de investigações, segundo a agência France-Press. No entanto, o Conselho de Segurança reunir-se-à hoje para discutir a situação na Palestina.
Do lado oposto está Israel, que exige uma intervenção externa, mas para se condenar o Hamas e as suas ações, que, defende, esteve por detrás dos protestos de ontem.
Há mais de um mês que milhares de palestinianos se têm deslocado diariamente até à fronteira com Israel para protestarem contra o avanço dos colonatos, péssimas condições de vida e atos de violência indiscriminada pelas forças armadas israelitas. Além de um ato de protesto, a Grande Marcha de Regresso, assim chamada pelos palestinianos, tem como objetivo relembrar o "Nakba" (desastre, em árabe), quando, em 1948, com a fundação do Estado de Israel, mais de 700 mil palestinianos abandonaram e foram expulsos das suas terras.