Os 23 adeptos detidos por terem agredido jogadores e o treinador do Sporting começam hoje a ser ouvidos no Tribunal do Barreiro, depois de o juiz de instrução criminal ter adiado as diligências, devido ao “elevado número de arguidos”.
O grupo – alegadamente da claque Juve Leo, que desmentiu as ligações na madrugada de ontem – poderá vir a responder em tribunal por nove crimes. E alguns com penas bem pesadas. Em causa, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR) estão suspeitas de terrorismo, sequestro, incêndio florestal, posse de arma proibida agravada, resistência e coação sobre funcionário, introdução em lugar vedado ao público, ameaça agravada, ofensa à integridade física qualificada e dano com violência (ver página ao lado). Somando as molduras penais máximas previstas para cada um destes crimes e se cada arguido fosse acusado dos nove crimes em simultâneo, a pena poderia chegar aos 45 anos de prisão, convertidos em 25 – a pena máxima permitida em Portugal.
Ao que o i apurou junto de fonte judicial, a Procuradora-Geral da República (PGR), Joana Marques Vidal, e a Secretária de Estado da Administração Interna, Isabel Oneto, acompanharam ontem, de perto, as diligências que decorriam no Tribunal do Barreiro. De acordo com a mesma fonte, o Ministério Público tentará que os 23 arguidos fiquem a aguardar julgamento em prisão preventiva – uma medida de coação “exemplar” e que servirá para passar a mensagem de que casos do género não podem voltar a acontecer.
O grupo de agressores deveria ter começado a ser ouvido ontem ao início da tarde, mas o juiz de instrução criminal adiou os primeiros interrogatórios para hoje – segundo a lei, os arguidos têm de ser ouvidos até um máximo de 48 horas após a detenção -, devido à “complexidade das questões em causa, determinantes da maior ponderação” e “ao elevado número de arguidos”. Só depois do primeiro interrogatório serão conhecidas as medidas de coação – que podem ir do termo de identidade e residência à prisão preventiva, a medida mais gravosa. Durante toda a tarde de ontem, os agressores estiveram a ser identificados e notificados nas instalações do tribunal, guardadas por militares da Unidade de Intervenção (UI) da GNR.
Caso os indícios de terrorismo avancem, o processo pode ganhar contornos diferentes. Desde logo, a investigação poderá passar para a alçada da Polícia Judiciária (PJ) – a força de segurança com competência para tratar este tipo de delitos. No entanto, o Ministério Público pode decidir pela manutenção da GNR à frente do caso. Outra particularidade é que, tratando-se de suspeitas de terrorismo, o processo terá de ser julgado obrigatoriamente por um coletivo de juízes.
Polícias surpreendidas Ao que o i apurou, a invasão de anteontem apanhou as polícias – e a própria segurança do Sporting – desprevenidas. A PSP monitoriza em permanência a atividade das claques, mas os spotters não detetaram, nos últimos dias, quaisquer sinais de mobilização para agredir jogadores.
No entanto, contam fontes da PSP, a seguir ao jogo do Sporting com o Atlético de Madrid, no início de abril, foram detetadas movimentações de adeptos – que estariam a planear partir para a agressão. As suspeitas chegaram a ser investigadas, mas na altura não se confirmaram.