Bruno de Carvalho desmente ter incentivado elementos da Juve Leo a agredirem o plantel ou o treinador do Sporting. Ainda assim, admite ter-se encontrado com a claque. E confirma que o encontro foi «tenso».
«Não existiu reunião. Houve, sim, a 7 de maio, um jantar da Juve Leo em Alvalade, em que Bruno de Carvalho esteve presente, tendo chegado por volta das 23 horas», garantiu ao SOL fonte oficial da direção do clube.
O ambiente, segundo a mesma fonte, foi «pesado» e de «tensão». Isto porque os elementos da Juve Leo estariam descontentes com o presidente, por duas razões: «Primeiro, porque no jantar de Natal tinham-lhe pedido para participar numa homenagem ao Fernando Mendes [antigo líder da Juve Leo, afastado da claque em 2000] e ele recusou. Atiraram-lhe isso à cara»; outra das razões do descontentamento dos adeptos remontava à Assembleia Geral de Fevereiro – a claque terá acusado Bruno de Carvalho de «desrespeitar a memória dos fundadores, João e Gonçalo Rocha, aquando do lançamento da primeira pedra do pavilhão».
E um terceiro factor surgiu entretanto: os maus resultados da equipa de futebol. «Alguns elementos começaram a exaltar-se e a dizer que o desempenho do plantel no jogo com o Atlético de Madrid tinha sido vergonhoso». Segundo a versão do presidente do Sporting, no meio da exaltação houve mesmo quem se tivesse oferecido para agredir os jogadores: «Presidente, temos de ir lá dar-lhes um ‘apertão’». No entanto, Bruno de Carvalho garante não ter apoiado ideia, tendo respondido: «Temos de lá ir, sim. Mas não para dar apertões. Temos de lá ir todos falar com eles, para apoiar».
Isto porque o Sporting «sempre lidou com o descontentamento das claques promovendo encontros entre os líderes e os jogadores, de maneira a desanuviar o ambiente».
«Quando os protestos incidem especificamente num jogador, organizamos um almoço ou um jantar oficial com esse jogador. Os elementos das claques recebem uma camisola e a tensão desaparece», explica a mesma fonte oficial. Já quando o descontentamento se estende a toda a equipa – como era o caso -, o Sporting promove um «encontro» em Alcochete entre o plantel e os líderes de todas as claques. «É uma visita controlada em que tiram selfies com os jogadores e que serve para baixar a tensão».
Bruno de Carvalho garante que o repto que lançou no jantar de 7 de Abril era somente o de promover um encontro deste género. Porém, o evento nunca chegou a acontecer «porque, nas semanas seguintes, o Sporting jogou a meio da semana».
Mas, se Bruno de Carvalho percebeu que havia adeptos que queriam dar «um apertão» aos jogadores, por que não mandou reforçar a segurança? O presidente admite que não. «Porque sempre que houve momentos de tensão, os problemas foram resolvidos com este género de encontros». Bruno de Carvalho diz-se, assim, surpreendido com a invasão de terça-feira ao final da tarde. E também «chocado».
O presidente do Sporting diz ainda que se sente «traído» pela claque, porque sempre que elementos de claques visitam a Academia de Alcochete avisam «com 24 horas de antecedência». Desta vez terá sido diferente. «Só ligaram às 16h52. Doze minutos antes da invasão. Telefonaram ao Bruno Jacinto, que é o oficial de ligação aos adeptos, a dizer que estavam a caminho». E sem mostrar «qualquer tipo de agressividade». Bruno Jacinto terá, entretanto, telefonado ao diretor de operações de Alcochete, sem que se tenha conseguido impedir o ataque. «O porteiro que lá estava já só os viu lá dentro. Foi como que um Exército», descreve a mesma fonte oficial, acrescentando ainda que é «falso» que a segurança tenha deixado entrar o grupo.
Os maestros da tese
Se Bruno de Carvalho não deu aval aos adeptos para baterem, de onde surgiu a tese – sendo que o jornal Público até já garantiu que Jorge Jesus tem na sua posse provas de «contactos» entre o presidente e a Juve Leo para ‘apertarem’ com o plantel?
Neste ponto, a direção de Bruno de Carvalho é menos taxativa nas explicações. Fala, longamente e em off, sobre o «fenómeno das claques», «fações inimigas» de Bruno de Carvalho e «tentativas de incriminação» entre adeptos.
O ‘despedimento’ de Jesus
Já sobre a reunião com o treinador Jorge Jesus e a equipa técnica na passada segunda-feira, Bruno Carvalho confirma o encontro. Mas nega ter anunciado que não contava com nenhum deles na próxima época.
«É mentira que lhes tenha dito que não os queria na próxima época», assegura. No entanto, Jesus terá perguntado «várias vezes» se estava suspenso. «E Bruno de Carvalho respondeu, também várias vezes, que não. Não estava suspenso».
A ser assim, Bruno de Carvalho quer contar com o treinador na próxima época? «Jorge Jesus tem contrato até ao final da próxima época e a atual termina amanhã. Durante a próxima semana iniciam-se as conversões habituais nestes períodos, entre os órgãos do clube», diz o representante da direção de Bruno de Carvalho. E acrescenta: «Desde que haja vontade do Sporting, vontade da administração, Jorge Jesus continua». A seguir faz a ressalva: «Os acontencimentos desta semana terão impacto nas conversações e não sei se Jorge Jesus terá disposição para continuar».
A gravação que circula na web
O SOL confrontou o representante de Bruno Carvalho com um ‘áudio’ que circula na internet desde quarta-feira, em que alegadamente um dos agressores descreve o que o grupo fez dentro da Academia. O suposto elemento começa por dizer que a ação foi desencadeada por um telefonema de Bruno de Carvalho: «O Bruno ligou-me». A direção do Sporting diz que o áudio «fake» e explica porquê: «A pessoa fala num esfaqueamento e em muito sangue, algo que não se verificou. E também diz que, depois de sairem do balneário, agrediram jogadores no relvado. Isso também é falso, basta ver os autos da GNR». Bruno de Carvalho está convencido de que a gravação foi «construída com base em informações dos jornais de quarta-feira».