Havia 20 pessoas dentro da Academia do Sporting e o ataque terá sido inesperado – ainda que, nos últimos dois dias, tenham vindo a público teorias de que os invasores foram ajudados a entrar nas instalações. Pouco depois das 17 horas de terça-feira, um grupo com cerca de 50 homens encapuzados invadiu a Academia de Alcochete, onde jogadores e treinadores se preparavam para treinar.
Jorge Jesus e dois elementos da equipa técnica do clube, João Rollin Duarte e Paulo Cinturão, foram os primeiros a dar de caras com os invasores, num dos campos. Segundo o despacho de indiciação do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) do Montijo, revelado pela Sábado e a que o SOL teve também acesso, os agressores atiraram-lhes tochas.
A seguir, forçaram uma porta de vidro de acesso ao interior da ala profissional e as portas que dão para o corredor e para o balneário da equipa principal. Bloquearam as saídas e atiraram tochas aos jogadores e aos elementos da equipa técnica que estavam no interior. Uma atingiu o treinador adjunto Mário Pinto, que ficou queimado no pulso e na barriga.
No balneário, o grupo intercalou gritos e ameaças com socos e pontapés. «Vocês são uns filhos da puta, cabrões. Vocês são um monte de merda. Vamos-vos matar! Vocês estão fodidos! Vamos-vos ‘arrebentar’ a boca toda! Não ganhem no Domingo que vocês vão ver!» Bas Dost foi o primeiro a apanhar. Levou com um cinto na cabeça e pontapés «por todo o corpo». Jorge Jesus apanhou com um cinto verde na cara e também foi pontapeado, bem como William de Carvalho, Acuña, Battaglia, Fredy Montero, Misic, Rui Patrício e Petrovic. Nem o enfermeiro Carlos Mota, Hugo Fonte e Bruno César escaparam e o fisioterapeuta Ludovico Marques apanhou um murro no olho esquerdo.
Minutos depois, o grupo dispersou, a pé e em direção a carros estacionados nos arredores das instalações da Academia. Tentaram fugir e acabaram – pelo menos alguns – por ser apanhados pela GNR. Um primeiro grupo foi intercetado logo à saída; um segundo só seria apanhado junto ao Freeport, em Alcochete.
Durante a fuga, um dos arguidos, Pedro Santos, ainda tentou abalroar um carro da GNR, em Malhada de Meias, ao volante de um BMW x3 cinzento, onde seguia com sete outros adeptos.
Dentro dos carros, os militares encontraram evidências de que parte dos agressores serão da Juve Leo – sendo que a claque negou qualquer envolvimento no caso na madrugada de quarta-feira. Foram apreendidos um chapéu com os dizeres ‘Juventude Leonina’ e um casaco com a inscrição ‘Ultras, Juve Leo 76’, além de cachecóis do Sporting, balaclavas, luvas de boxe e um stick de hóquei que terá sido usado nas agressões.
Para o Ministério Público, que defende a prisão preventiva dos 23 elementos detidos – suspeitos dos crimes de terrorismo, sequestro, incêndio florestal, posse de arma proibida agravada, resistência e coação sobre funcionário, introdução em lugar vedado ao público, ameaça agravada, ofensa à integridade física qualificada e dano com violência -, o grupo seguiu um «plano previamente traçado» e agiu «com impunidade». Ao início da noite de terça-feira, ainda com a GNR da Margem Sul em sobressalto, o Governo falava ao portugueses, em direto, prometendo «medidas» duras.
Os agressores passaram a noite na GNR de Alcochete e do Montijo e, na quarta-feira ao início da tarde, foram escoltados pela Unidade de Intervenção até ao Tribunal do Barreiro, com as diligências seguidas atentamente pela Procuradora-Geral da República. As identificações e notificações duraram todo o dia e só nove dos 23 detidos disseram aceitar falar ao juiz de instrução criminal no primeiro interrogatório. Quatro foram ouvidos na quinta-feira e outros quatro ontem. Os interrogatórios continuam este sábado e o Tribunal já informou que, se for preciso, continua as diligências no domingo.
Só depois de ouvidos todos os arguidos serão decididas as medidas de coação – sendo quase certo que o grupo deverá ficar a aguardar julgamento em prisão preventiva.