O PCP não gostou de ver o Partido Socialista votar ao lado de PSD e CDS-PP na Assembleia da República contra a sua proposta de redução do horário laboral para as 35 horas semanais. No discurso de encerramento da já tradicional homenagem à heroína revolucionária Catarina Eufémia, Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP, acusou a convergência entre PS, PSD e CDS-PP de ser “o grande obstáculo à solução dos problemas do país”.
“A convergência que tem vindo a acontecer no plano da legislação laboral e a alargar-se a outros domínios, unindo PS, PSD e CDS-PP, confirma os laços de classe que unem estes três partidos quando se trata de optar pelos interesses do capital”, criticou perante a plateia comunista, acrescentando que esta convergência se nota principalmente em “questões estruturantes da política de direita”.
Na semana passada, PS, PSD e CDS-PP votaram contra a proposta comunista de se revogar os mecanismos de adaptabilidade dos bancos de horas e de se reduzir a carga laboral para as 35 horas semanais para todos os trabalhadores.
Para o líder comunista, o argumento da competitividade, proferido pelo PS e direita, não é mais que uma “falácia” porque o “peso dos custos do trabalho no conjunto dos custos nas empresas” está entre os “11% e os 17%” – uma posição, diz, que tem como objetivo consolidar o retrocesso que foi imposto aos trabalhadores portugueses pelos seus governos nos últimos anos ao eternizar “as medidas de subversão das leis laborais, pondo em causa direitos fundamentais”.
E deixou avisos ao PS. “Foi com a luta que se conseguiram avanços na reposição de direitos e rendimentos”, disse Jerónimo, acrescentando que “será com a luta que se conseguirão novas conquistas”. Para que a luta avance, o comunista apelou aos trabalhadores para que se organizem nos locais de trabalho e nas ruas com o objetivo de mobilizar para a “grande manifestação nacional marcada pela CGTP–IN” de 9 de junho, em Lisboa.
A manifestação da CGTP-IN, anunciada pela intersindical no 1.o de Maio, tem como mote a valorização do trabalho e dos trabalhadores com a reposição de direitos e rendimentos, bem como o combate à precariedade e ao desemprego.
Avisos ao governo
No sábado, num almoço-comício em Odivelas, Jerónimo de Sousa já tinha avisado o governo socialista de António Costa para arrepiar caminho na convergência com a direita nas questões estruturais. O comunista deixou ainda o alerta de que o PS está a “estragar o caminho da atual solução política” e para não esperar que o PCP assine de cruz o Orçamento do Estado para 2019, ainda que o primeiro-ministro e o Presidente assim o desejem. Este último chegou inclusive a alertar para a possibilidade de eleições legislativas antecipadas caso os partidos à esquerda do PS, Bloco de Esquerda e PCP, chumbem o Orçamento do Estado para o ano que vem.
“É do exame concreto que dele fizermos, da verificação se ele corresponde aos interesses dos trabalhadores e do povo, do caminho que faça no sentido de avanço na reposição e conquista de direitos que decidiremos”, alertou Jerónimo. “O PCP não desperdiçará nenhuma oportunidade para fazer avançar direitos e salários”, garantiu.