Ao darem 72 horas a Bruno de Carvalho para apresentar a sua demissão, os participantes na reunião de órgãos sociais do clube que teve lugar na segunda-feira podem ter assinado a ‘sentença de morte’ do processo de sucessão imediata do líder. De facto, desde então, o presidente do Sporting tem movido todas as peças do puzzle ao seu alcance para chegar à reunião de hoje dos órgãos sociais como grande vencedor. E nem mesmo os pedidos de demissão vindos de outras e novas frentes o demovem. Ontem, recorde-se, foi a vez do Grupo Stromp, que reúne um conjunto significativo de notáveis sportinguistas, fazer “um apelo, sério e muito sentido, ao presidente Bruno de Carvalho e aos demais membros da direção que ainda se encontram em funções, acantonados numa situação de naufrágio iminente, no sentido de apresentarem de imediato a sua demissão”.
As diligências da atual direção começaram com o convite a Fábio Coentrão para ficar no clube e com a contratação de Augusto Inácio para team manager.
Se Coentrão aceitar o convite, Bruno de Carvalho mata dois coelhos de uma cajadada: esvazia a sustentação jurídica dos outros jogadores para saírem do Sporting e desmente a comunicação social. O raciocínio é simples. A verificar-se a permanência do defesa lateral, que foi sempre um dos mais revoltados neste processo, que razão teriam os seus companheiros para rescindir os contratos? Ao mesmo tempo, tudo o que os jornais disseram sobre conflitos entre Fábio Coentrão e o presidente ficaria posto em causa, lançando também dúvidas sobre a veracidade de outros relatos que davam conta de mal-estar entre o presidente e o plantel.
Com o mesmo objetivo de retirar argumentos à oposição, o clube anunciou na terça-feira o reforço da segurança em Alcochete e o fim de apoio à claque Juve Leo, que terá estado envolvida nas agressões aos jogadores na Academia.
A contratação de Inácio, por sua vez, também tem um valor estratégico. Ao contrário do que tem sido escrito, Jorge Jesus e o novo diretor para o futebol já fizeram as pazes, e Inácio pode ser usado por Bruno de Carvalho como trunfo para tentar convencer Jesus a ficar no Sporting com a atual direção. Aliás, fontes próximas do clube garantiram ao i que Bruno de Carvalho vai pedir desculpa ao treinador por tudo o que tem acontecido e tentará até aliciá-lo com uma proposta de renovação do contrato.
A verificar-se este cenário, o presidente acredita que os principais motivos que a oposição apresentava para o afastar ficariam esvaziados. Com o fantasma das rescisões de jogadores afastado, com o problema do team manager resolvido, com as condições de segurança asseguradas e com o pedido de desculpas ao treinador, Bruno poderia apresentar-se de ‘mãos limpas’ na reunião de hoje em Alvalade.
Jesus pode sair por acordo Fontes próximas do treinador garantem no entanto que, apesar dos esforços de Bruno de Carvalho, Jesus não ficará no Sporting se o atual presidente se mantiver. E nem mesmo uma proposta de renovação do contrato o fará mudar de opinião. Mas a sua saída poderá também não ser litigiosa. O cenário mais provável é um acordo entre as partes, em que Jesus não invoque a rescisão com justa causa e o Sporting não exija que o treinador complete o contrato.
A oposição a Bruno de Carvalho teme, entretanto, que este, além de não se demitir hoje, apresente ainda listas a ele afetas para a Assembleia Geral e para o Conselho Fiscal, que estão demissionários, blindando assim a sua posição no clube.
Dentro e fora de campo Apesar do momento conturbado, BdC continua a cumprir em pleno as suas funções enquanto presidente do Sporting. Em comunicado publicado ontem no site oficial, o conjunto leonino anunciou que Fernando Correia passa a integrar a estrutura de comunicação a partir da próxima segunda-feira (28 maio). O jornalista “vai desempenhar as funções de porta-voz” do líder do emblema de Alvalade, para que BdC “se dedique ainda mais às suas funções executivas e institucionais”. Esta entrada acontece um dia depois de o conjunto verde-e-branco ter tornado oficial o regresso de Augusto Inácio ao clube, neste caso para ocupar o cargo de diretor-geral do futebol.
À parte destes dois nomes anunciados, os leões também avançaram com novidades dentro das quatro linhas. Esta quarta-feira, o Sporting oficializou a contratação do central brasileiro Marcelo. O ex-Rio Ave, de 28 anos, assinou contrato até 2021 – com mais uma época de opção – com uma cláusula de rescisão de 45 milhões de euros. De recordar que desde o mercado de transferências de inverno (janeiro) que os leões faziam mira ao central. “É o grande salto da minha vida, tenho consciência de que venho para ajudar e para agarrar com unhas e dentes por tudo o que apostaram em mim”, disse à televisão do clube. Momentos depois, já ao início da noite, os leões confirmaram que chegaram a acordo com o V.Guimarães pelo extremo Raphinha. O jovem de 22 anos assinou um contrato válido até junho de 2022, sendo que a cláusula de rescisão será de 60 milhões de euros.
Destaca-se, por outro lado, a saída de Mário Monteiro. O preparador físico do Sporting, justificou a despedida (ao “JN”) com os acontecimentos vividos em Alcochete: “O que se passou foi absolutamente traumatizante”.