“Não é capitulando perante o neoliberalismo que nós defendemos a Europa”. Quem disse isto e quando? António Costa no discurso de encerramento do congresso de 2016.
A geringonça tinha seis meses, era preciso acarinhá-la. No último congresso, a moção do líder fazia elogios à responsabilidade dos partidos da esquerda: “O PS teve à sua esquerda três partidos que manifestaram, no rescaldo das eleições de outubro de 2015, um enorme sentido de responsabilidade e uma grande capacidade de separar o essencial do acessório”.
Em 2018, o tempo é de recentrar o PS, esquecer o esquerdismo inicial e apostar no socialismo moderado. A soma das vitórias externas e internas tornaram o PS auto-suficiente. Os parceiros de esquerda foram basicamente ignorados e a palavra de ordem de Costa para este congresso foi em diminuir ao máximo o significado da geringonça: a narrativa, agora, é que não aconteceu nada de novo. Este é “o PS de sempre”. Ficou evidente no congresso que, para Costa, a viragem que permitiu ao PS formar governo com BE e PCP deixou de ser considerada uma mais-valia para mostrar ao país.
É o “PS de sempre” que está no poder e que reivindica todas as vitórias do governo, ignorando os contributos da esquerda. É o “PS de sempre” que tentará a maioria absoluta e que, se não a conseguir, pode perfeitamente procurar outros companheiros para uma relação estável. Rui Rio já referiu várias vezes que o seu programa, na impossibilidade quase assumida de ganhar as próximas eleições, é ser aliado parlamentar de um governo minoritário do PS. Costa adora Rio. A um ano e meio das eleições legislativas, Costa recentra e modera o PS. Um novo ciclo está em marcha rumo às europeias e legislativas de 2019.
À maneira dele O hino de António Costa é o “À Minha Maneira”. Tal como tinha acontecido no discurso de sexta-feira, foi uma versão instrumental do tema dos Xutos e Pontapés que deu o mote para a subida de António Costa ao palco para o tradicional discurso de encerramento.
Novidades: António Costa anunciou que no próximo orçameno haverá medidas para ajudar os jovens emigrados que queiram regressar a Portugal: “Não podemos ignorar que na crise que o país atravessou, entre 2010 e 2015, tivemos um fluxo migratório como não tínhamos desde a década de 60. Temos de criar condições para quem quer voltar”. Ainda não se sabe bem como, mas terá que se desenhar medidas que permitam regressar ao país os jovens que desertaram por causa da crise.
A educação foi apontada como um dos grandes sucessos do governo e da história do Partido Socialista.
“É evidente que depois de anos tão traumáticos de crise, o número que as pessoas mais fixam é o do défice mais baixo da nossa democracia, mas o número que mais me orgulha é o de outro défice: a taxa de abandono escolar, que baixou para os 12,6%””, disse o secretário-geral do PS apontando ainda a subida nas bolsas de doutoramento promovidas por este governo
“O discurso que foi feito de que havia licenciados a mais e não vali a apena estudar era um discurso que levava ao fracasso”, disse, enquanto fazia também a defesa do ensino profissional e ao alargamento da rede de educação pré-escolar.
A necessidade de medidas para conciliar o trabalho e a família – e com isso promover a natalidade – foi também apontada por António Costa, naquilo que foi um desafio aos parceiros sociais para que o tempo de trabalho seja moldado às necessidades familiares. Costa defendeu também que a licença de apoio à família seja alargada aos avós. A precariedade laboral – sobretudo no primeiro emprego – também foi apontada como um dos males a erradicar.
Costa não é o paradigma do “político de afetos”, mas deixou a mensagem afetuosa aos militantes: “Já não sei bem a quantos congressos socialistas vim, mas há uma coisa que sei: parto sempre com muitas saudades. Este é um momento único”.