Sporting. Terrorismo permitiu operação e buscas fora de horas

Antigo líder da Juve Leo Fernando Mendes foi detido ontem, com três outros adeptos, por estarem implicados nas agressões em Alcochete  

Há mais quatro detidos no caso das agressões na Academia de Alcochete. As detenções ocorreram praticamente ao mesmo tempo. Anteontem à noite, por volta das 22 horas, a PSP detinha o antigo líder da Juve Leo Fernando Mendes, em Arroios, e um outro adepto, Elton Camara. Enquanto isso, militares da GNR detinham Joaquim Costa, de Vialonga, e Nuno Torres, que estava identificado por ser o condutor de um BMW azul que, após as agressões, retirou elementos da claque das instalações da Academia.

Os quatro elementos, contou ao i fonte policial, estavam sob escuta desde os incidentes em Alcochete. E a operação de anteontem aconteceu já de noite para evitar fugas de informação e facilitar as detenções. O facto de em causa poder estar um crime de terrorismo, como defende o Ministério Público, permitiu às autoridades entrar nas casas dos detidos durante a noite. A lei só permite que se façam buscas domiciliárias entre as sete da manhã e as 21 horas, exceto em casos de criminalidade violenta e altamente organizada.

O grupo – que foi levado ontem ao Tribunal do Barreiro, onde informou o juiz que pretende prestar declarações – junta-se, assim, a 23 outros adeptos do Sporting que estão detidos preventivamente desde o final de maio. E as detenções poderão não ficar por aqui, porque a GNR e a PSP ainda estão à procura de cerca de uma dezena de elementos que terão participado nas agressões. O Ministério Público justifica as prisões preventivas com o “perigo de fuga”, o “perigo de perturbação do inquérito”, o “perigo da continuação da atividade criminosa” e o “perigo de perturbação da ordem pública”. 

Fernando Mendes chefiou a Juventude Leonina até 2000, altura em que foi expulso. Nos últimos meses, e ao que o i apurou, o antigo líder tinha voltado a “aproximar-se de elementos” da claque – de tal forma que passou, até, a assistir a alguns jogos em lugares reservados à Juve Leo. Entretanto, foi dos nomes mais referidos nos interrogatórios aos 23 adeptos detidos no final de maio. E a presença do antigo chefe da claque não passou despercebida à GNR logo na tarde das agressões: seguranças e Jorge Jesus puseram-no no local. E há imagens de videovigilância que o comprovam. 

O ex-treinador do Sporting contou, aliás, que chegou a pedir ajuda a Fernando Mendes no meio do caos. “Fernando, ajuda, estes gajos estão a bater nos jogadores, ajuda-me”, terá dito. E o antigo líder da Juve ter-lhe-á respondido que o grupo não estava na Academia para bater em ninguém, mas “só para falar”. Dias a seguir ao incidente, Fernando Mendes pediu publicamente desculpa pelas agressões – declarações que lançaram dúvidas sobre o porquê de não ter sido detido logo no dia 15 de maio. Fontes policiais explicaram ao i que a GNR não conseguiu encontrar elementos que suportassem a detenção em flagrante delito.

A tese da ida a Alcochete para conversar foi repetida ontem pelo advogado de defesa de um dos novos detidos. A defesa de Nuno Torres, o arguido que conduzia o BMW azul, afirmou aos jornalistas que o cliente “nada teve a ver” com as agressões e que foi convidado para “uma conversa” com os jogadores. Um convite que o fez sentir “muito honrado”. Francisco Macedo acrescentou ainda que Nuno Torres nem sequer estava a par dos desacatos e das agressões que tinham ocorrido no interior da Academia.

 Os primeiros 23 detidos pelas agressões em Alcochete estão indiciados por um total de nove crimes: terrorismo, sequestro, incêndio florestal, posse de arma proibida agravada, resistência e coação sobre funcionário, introdução em lugar vedado ao público, ameaça agravada, ofensa à integridade física qualificada e dano com violência. Já os quatro novos arguidos começam hoje, pelas 9h30, a ser ouvidos no Tribunal do Barreiro.

* Com Carlos Diogo Santos