Os defensores dos animais ou se preferir os movimentos antitaurinos têm ganho peso em Portugal?
Defensores dos animais não são de certeza. Defensores são aqueles que os criam. Quem lida com eles somos nós. Salvamos o touro da extinção. Mas não tenho essa interpretação. Não é verdade que a contestação à tauromaquia seja uma realidade recente e atual. Existem desde sempre visões divergentes com a tauromaquia. São históricas. Mesmo há pouco tempo estive a ler um dos relatórios que foi feito, no fim do século XIX, para tentar proibir a tauromaquia e parece que foi escrito hoje. O que é diferente é a dimensão mediática.
Compreende os argumentos que são utilizados pelas pessoas que não gostam de corridas de toiros?
Aquilo que se explora no universo antitaurino são duas coisas: uma delas é perfeitamente admissível que é a sensibilidade. Há pessoas que não se identificam com a tauromaquia e isso é respeitável. Conheço pessoas que não conseguem ver imagens de tauromaquia. Eu, por exemplo, não consigo ver combates de MMA [MixedMartial Artes]. Aquilo agride-me, mas isso é uma questão de sensibilidade. O segundo elemento é a exploração da ignorância e nas últimas duas décadas o setor da tauromaquia não soube mostrar e comunicar aquilo que é. Isso permitiu que tenha havido um espaço de desconhecimento sobre o que é esta realidade.
Vai marcar presença no debate, na Assembleia da República, para discutir a abolição das corridas de toiros?
Claro que sim
Costuma falar com os partidos políticos?
Sim. É preciso primeiro falar com os deputados para lhes levar informação. Temos uma relação muito desenvolvida com os grupos parlamentares .
Com o PAN também há essa relação?
Com o PAN e com o Bloco de Esquerda não temos essa relação. São partidos que manifestamente têm uma atitude preconceituosa em relação à tauromaquia. O objetivo deles é dar mais um passo para acabar com a tauromaquia. Temos de ser realistas. Estas pessoas têm uma visão que não respeita a diversidade. A tauromaquia está disposta a dialogar, porque é uma realidade transversal no país.
Quem é o espetador típico de uma corrida de toiros?
Tanto temos pessoas de classes económicas mais altas como pessoas do povo. O povo é a classe mais presente na tauromaquia. Não há sequer uma dimensão urbana ou rural. Hoje em dia o consumo de tauromaquia é feito em contexto urbano. Temos uma percentagem de jovens em praça que faz inveja a qualquer país no mundo. Chegamos a ter corridas com um terço de jovens. O que é uma coisa impensável na maior parte dos espetáculos. Estas pessoas que atacam a tauromaquia deviam ir às praças para verem a realidade.
O grande argumento contra as corridas é o sofrimento do toiro, independentemente de quem assiste ao espetáculo.
No universo antitaurino também existem modas. A primeira moda era a questão do toiro. Depois criou-se a moda de que a tauromaquia era um sorvedouro de dinheiros públicos. A última moda é a ideia de que a tauromaquia é perniciosa para as crianças e jovens.
Está a dizer que estes movimentos não estão realmente preocupados com os animais?
Existe uma ideia de animal nessa lógica antitaurina. O toiro de lide tem uma qualidade de vida superior a qualquer animal criado pelo homem. Vive em liberdade e tem uma vida mais longa.
Para depois sofrer durante 20 ou 30 minutos…
O sofrimento é uma característica humana. Os animais são seres sensíveis e podem sentir a dor. O toiro bravo é um animal selecionado há vários séculos tendo em conta as suas características de resistência à dor. O toiro não foge perante o estímulo da bandarilha. Pelo contrário. A reação dele é investir e atacar enquanto a reação natural à dor é a fuga. Aquilo que os estudos científicos nos revelam é que fisiologicamente o toiro tem uma adaptação significativa.
O Bloco de Esquerda propõe que as corridas transmitidas na televisão só possam acontecer depois das 22h30 e com uma bolinha vermelha no canto do ecrã. É sensível ao argumento de que as crianças não devem assistir às corridas?
É óbvio que o objetivo é atacar a tauromaquia na sua visibilidade social e a televisão é um dos meios que leva a cultura portuguesa ao país e a todo o mundo. As pessoas não fazem ideia da quantidade de portugueses que vivem fora do país e aguardam religiosamente pelas corridas de toiros para poderem sentir Portugal perto de si.
Não gostaria de ver a bolinha vermelha no ecrã?
Isso é um absurdo. É ridículo. O objetivo é tentar lançar um anátema sobre a cultura tauromáquica. Alguém que nos apresente e nos diga onde é que estão as crianças e os jovens traumatizados pela tauromaquia. Isso é um mito. É uma tentativa de mentir e de enganar as pessoas.
Uma reportagem, no Diário de Notícias, sobre os jovens que andam a aprender a tourear dizia que eles são julgados na escola por terem feito essa opção. Tornou-se impopular ser profissional do toureio?
Isso está relacionado com o espírito de ignorância e a exploração de ódio. É um aspeto importante, porque o aparecimento dos blogues e das redes sociais fez com que uma opinião ignorante possa ter o mesmo peso do que uma análise jornalística fundamentada. As redes sociais são espaços de liberdade e de diversidade, que permitem ligar as pessoas, mas tornaram-se, infelizmente, no oposto disso e são um espaço de ódio. Temos também de dizer que estes partidos, em muitas das suas comunicações, o que fazem são verdadeiros apelos ao ódio. É totalmente condenável esta atitude.
Está a falar de que partidos?
O Bloco de Esquerda e o PAN, mas sobretudo o PAN. Têm uma atitude persecutória e de apelo ao ódio. Há muitos exemplos disso.
Não tem ligações familiares a este mundo. Como é que surgiu essa aproximação?
Foi uma descoberta pessoal já em adulto. Não tenho nenhuma ligação direta com o mundo da tauromaquia, pessoal ou familiar. Este universo, quando vim estudar Filosofia para Lisboa, despertou-me muita curiosidade. Foi um percurso de aprendizagem e de estudo. Tive a sempre a sensação de que havia qualquer coisa de muito verdadeiro neste universo
Começou primeiro a ler e depois é que foi assistir?
Sim. Comecei por pesquisar e investigar. Comprei alguns livros para perceber o que representa a corrida. Foi uma descoberta pessoal e depois comecei a ir às corridas. A realidade da tauromaquia é muito rica. A corrida de toiros é uma representação da própria condição humana. Representa tudo o que está relacionado com a necessidade de superação. A coragem, o perigo, a beleza, a tragédia… É uma arte muto abrangente. O Orson Welles dizia que ‘os toureiros são atores a quem acontecem coisas de verdade’. É exatamente isso.