O regresso às aulas costuma vir acompanhado de algumas preocupações. Mas as contas não se fazem apenas com o que as famílias gastam em material escolar e livros. Existe outro tipo de peso que é preciso ter em conta: o das mochilas. A questão é polémica e, depois de vários anos em discussão, obrigou mesmo o governo a tomar posição.
De acordo com o Executivo de António Costa, têm sido seguidas as recomendações da Assembleia da República para reduzir o excesso de peso. O Ministério da Educação explica mesmo que o caminho passa pela “promoção, através da flexibilidade curricular, de aulas e metodologias não-centradas no manual escolar, cuja gestão permite muitas vezes a dispensa do seu uso”.
Com os diretores a fazer pressão para que sejam encontradas soluções, com urgência, tem aumentado a força do movimento contra as mochilas que são pesadas. As fortes pressões fizeram com que, no final do ano passado, o parlamento conseguisse reunir um conjunto de medidas para mudar a situação. O projeto de resolução acabou por ser subscrito por todas as bancadas e foi aprovado por unanimidade.
Na origem desta discussão esteve uma petição pública, que teve como primeiro subscritor o ator José Wallenstein. “Mais de 50 mil portugueses subscreveram uma petição demonstrando uma preocupação com o peso excessivo das mochilas escolares e propondo um conjunto de medidas para ajudar a resolver o problema”, explicou Amadeu Albergaria, coordenador do grupo de trabalho que analisou a petição.
As medidas acabaram então por ser resultado da recolha de contributos escritos de várias entidades, audições e informações sobre as melhores práticas internacionais.
E foi exatamente o consenso que se conseguiu alcançar entre todos os partidos que permitiu que todas as recomendações chegassem a uma só voz. “Ficou assim clara a vontade política e a vontade legislativa na resolução deste problema”.
Entre outras coisas, os partidos quiseram que fosse feita uma campanha de sensibilização para monitorizar o peso das mochilas. Foi ainda pedido um estudo à Direção Geral de Saúde sobre o efeito do peso excessivo do material que os alunos têm de levar para a escola diariamente.
Também a existência de cacifos para todos os alunos aparece nesta lista de recomendações. Ainda assim, a ideia central era tentar começar, “na medida do possível”, a substituir gradualmente os livros em papel por “suportes digitais na sala de aula”.
Todos os partidos se mostraram também de acordo com a ideia de que a responsabilidade na adoção das medidas é do governo. As recomendações têm de passar a ser regra, as regras têm de ser cumpridas e cabe ao governo fazer com que aconteça.
Estudo assusta portugueses
De acordo com um estudo da Deco Proteste, publicado no ano passado, dois terços dos alunos carregam mochilas com demasiado peso. Com todo os livros e material necessário, as mochilas chegam a pesar mais de onze quilos.
Depois de analisar seis escolas públicas e privadas da Grande Lisboa, os responsáveis pelo estudo alertaram para os riscos que o peso representa para a saúde dos mais novos, principalmente quando estão em idades entre os 10 e os 13 anos.
O caso mais extremo de excesso de peso encontrado durante a análise em questão foi o de um rapaz de 11 anos que transportava 11 quilos, mais de um terço do seu peso corporal. Falamos mesmo de um valor que é três vezes superior ao recomendado pela organização Mundial de Saúde.
Comparando com estudos anteriores, percebe-se que o tema tem sido ponto de discórdia e discussão nos últimos anos. O que não faltam são análises cujas conclusões mais importantes se focam em alertas para a necessidade de tomar medidas. Já em 2013, um estudo deste género tinha como foco a situação de 174 alunos. Nesta altura, 66% tinham peso a mais nas mochilas, uma percentagem muito superior aos 53% encontrados dois anos antes.