Como utilizador dos transportes públicos na área metropolitana de Lisboa, eu poderia estar de acordo com a medida, que, a avançar, me renderá mais umas dezenas de euros ao final do mês. Mas, em vez disso, eu discordo, e por três razões.
Em primeiro lugar, pela esperteza de Medina de tentar implementar essa medida em ano de eleições legislativas.
Compreende-se a frustração do PS: nas sondagens, aparece ali sempre perto da maioria absoluta, sem, contudo, a alcançar. Mas isso não quer dizer que vale tudo. Aliás, e a meu ver, esta solução governativa tem tido bons resultados. Alguém se lembra de um tempo com tão poucas greves, nos transportes públicos, na saúde, na educação? Ainda existem algumas, mas são uma pálida amostra dos” anos de chumbo” do governo de Passos Coelho.
Em segundo lugar, esta medida é injusta, pois baixar o preço dos passes sociais beneficiará apenas os residentes que usam os transportes públicos, isto é, pessoas que vivem nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, pondo o resto do país, por via dos impostos que paga para o Orçamento de Estado, a suportar parte dos custos da medida. Serão de facto os mais pobres a subsidiar os mais ricos. Eu vivi alguns anos numa pequena cidade do Minho, e lá não existiam transportes públicos. Andar a pé ou de automóvel eram as únicas opções.
O terceiro ponto é o mais importante: baixar o preço dos passes socias, ao privar os transportes públicos de uma parte substancial das receitas próprias, vai contribuir para a degradação dos mesmos e para não fazer os investimentos que estes urgentemente necessitam. Perdoem-me o classismo, mas é uma ideia que veio da cabeça de alguém que se desloca de Mercedes, com motorista. Revela um total desconhecimento da área nevrálgica que tutela. Em Lisboa, que é a cidade onde me desloco, só o metro funciona razoavelmente. Os autocarros e os elétricos são poucos, quando aparecem estão invariavelmente cheios, tão cheios que não poucas vezes nem param nas paragens.
Os transportes públicos de Lisboa precisam urgentemente de mais investimento, pelo que baixar o preço dos passes sociais, privando-os de receitas, é um erro estratégico, suspeito que tomado pelas piores razões. Espero que a medida não seja implementada.
Correndo o risco de maçar os leitores com os detalhes da minha vida pessoal, devo dizer que também vivi alguns anos numa cidade que tinha bons transportes públicos. Fora de Portugal, claro… trata-se de Bruxelas. Era muito simples: três paragens no elétrico, outras três no metro, e em 15 minutos punha-me de casa no trabalho, e vice-versa. Chamasse a isto qualidade de vida.
Se os transportes públicos em Bruxelas eram baratos? Não, eram caros, mas mesmo aí havia uma maneira de poupar uns cobres: era comprar o passe com validade anual, que custava o equivalente a 10 passes mensais, e fazê-lo no mês anterior ao aumento anual dos preços dos transportes. Assim, para além da poupança de só pagar num ano 10 passes mensais, andava um ano inteiro a pagar o preço dos transportes no ano anterior.
Há sempre soluções. E há também estratégias, umas certas, outras erradas. Os transportes públicos na área metropolitana de Lisboa – e, muito provavelmente, também na do Porto – precisam de mais receitas, quer cobrir as despesas correntes, mas também, e crucialmente, de mais investimento. Ignorar isto a troco de um punhado de votos é adotar, pelas piores razões, uma estratégia errada.