A deputada do PSD Paula Teixeira da Cruz juntou-se às vozes no PSD que defendem uma comissão de inquérito ao caso do roubo de material de guerra. «Não vejo nenhum inconveniente, ao contrário. Até porque o governo está a falhar sobretudo nas áreas de soberania, que são essenciais. Vejo com agrado uma comissão de inquérito. Mais uma vez, o governo tratou de forma leviana algo que se prendia com a soberania do Estado», defendeu ao SOL a também antiga ministra da Justiça em entrevista.
O líder parlamentar do partido prometeu fazer uma ponderação sobre a oportunidade do inquérito, proposto pelo CDS, mas Fernando Negrão não abriu o jogo na última reunião da bancada social-democrata, apesar das intervenções dos deputados Marco António Costa e Miguel Morgado, favoráveis à iniciativa. Marco António Costa, presidente da comissão parlamentar de Defesa, terá defendido que o partido deveria dar mais atenção às áreas de soberania, segundo apurou o SOL. Ainda esta semana, o também deputado argumentou que seria «útil» para «retirar ilações no plano legislativo e no plano político relativamente àquilo que no decorrer de todo este processo possa ter corrido mal».
Paula Teixeira da Cruz lamenta que o PSD «se tenha resguardado e não tenha tomado a dianteira» sobre o caso de Tancos. Contudo, para a ex-ministra da Justiça, ninguém esteve bem neste processo. «As reações foram tardias, caiu um manto de silêncio sobre a questão de Tancos como se fosse um vulgar furto de uma arma de fogo. Houve uma omissão coletiva», defendeu.
Para a deputada do PSD, o Governo falhou no caso de Tancos e, de um modo geral, tem menorizado as «áreas de soberania». «Diga-me o que foi feito de estruturante no Ministério da Administração Interna, na Defesa e na Justiça? Não temos uma reforma de fundo e bem que estávamos a precisar pelos vistos», questionou.
PS não se opõe a comissão
O PS admitiu viabilizar a comissão de inquérito pedida pelo CDS. Em entrevista à RTP, o presidente do partido, sublinhou que, «em regra», o PS aceita as propostas dos partidos políticos de serem criadas comissões de inquérito. Isto porque «não deseja ser um partido que possa ser acusado de obstruir quaisquer investigações».
«O CDS acha que deve haver uma comissão de inquérito, pois haverá uma comissão de inquérito», acrescentou Carlos César. Mas entre os socialistas a ordem é para ‘segurar’ o ministro da Defesa, um potenciais alvos dos centristas no inquérito parlamentar. António Costa, o primeiro-ministro, garantiu no debate quinzenal que mantém todos os membros do Governo numa resposta a uma pergunta do CDS-PP.
Os comunistas também não se opõem ao inquérito mas querem ir mais longe no apuramento «de responsabilidades políticas» de sucessivos governos.
O Bloco de Esquerda foi o único partido que sinalizou um voto contra à iniciativa sobretudo pelo momento escolhido pelos centristas. O líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, chegou mesmo a considerar o momento escolhido pelo CDS como «brincadeira».
Apesar das críticas, no CDS, existe a convicção de que o inquérito acabará por ser viabilizado, nem que seja pela abstenção. O partido de Assunção Cristas entregará a proposta na segunda-feira no Parlamento e está a elaborar o documento para não chocar com a investigação, sob a alçada do Ministério Público, que conta com dois inquéritos: um ao roubo do material de guerra, o outro à recuperação das armas.