Todos os serviços dos hospitais e dos centros de saúde estão condicionados por causa da greve dos enfermeiros – que cumprem hoje o segundo de seis dias de paralisação. Em causa está a reivindicação da revisão da carreira e de acertos salariais.
O protesto vai arrastar-se de terça a sexta-feira da próxima semana, mas os enfermeiros já fizeram saber que pode vir a ser desmarcado caso o governo apresente amanhã uma proposta que vá ao encontro das reivindicações do sindicato e que “valorize e dignifique a profissão”, disse ao i a dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), Guadalupe Simões.
No entretanto, hoje o protesto é alargado a todos os serviços e a expectativa do SEP é que a adesão continue nos 90%. “Não temos dúvida nenhuma de que os enfermeiros vão aderir à greve e às concentrações que vão ser realizadas regionalmente”, prevê Guadalupe Simões.
Ontem, a greve arrancou apenas nos hospitais e em concreto nos serviços de cirurgia, levando ao adiamento de mais de cem intervenções cirúrgicas de norte a sul do país, de acordo com os números do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP). Os dados indicam que “terão sido adiadas praticamente todas as cirurgias programadas para hoje [ontem] de norte a sul do país”, adiantou ao i a dirigente do SEP, Guadalupe Simões.
Cirurgias adiadas
A lei impõe que a realização das cirurgias de urgência seja garantida por serviços mínimos. O que não impediu que os hospitais de Abrantes, Chaves, Bragança, Tondela, Viseu, Lamego, Famalicão e Figueira da Foz registassem uma adesão muito próxima dos 100%, de acordo com os números do SEP. Foi o caso do hospital de Santa Luzia, em Viana do Castelo, onde fizeram greve 45 dos 50 enfermeiros escalados levando ao cancelamento de todas as cirurgias marcadas com a data de ontem (entre 20 a 30). Isto porque, segundo Nelson Pinto, do SEP, o número de enfermeiros em funções não eram suficientes para realizar as cirurgias de rotina.
Também hospitais de Vila Nova de Gaia e Padre Américo, em Penafiel, foram encerradas as cirurgias programadas. Já no hospital de Santo António, no Porto, – um dos maiores do país – das 19 salas de cirurgia, foram encerradas 14, apontou o SEP.
Este cenário alastra-se às regiões da grande Lisboa, Centro, Alentejo e Algarve. No hospital de São José, em Lisboa, onde dos 40 enfermeiros de serviço apenas um não aderiu à greve, disse José Carlos Martins, presidente do SEP.
Razões do protesto
Desde março que os enfermeiros têm vindo a negociar com o governo alterações ao diploma da carreira e a revisão da tabela salarial. Em causa está a criação de duas novas categorias na carreira: uma na área da gestão e outra de enfermeiros especialistas.
Além disso os sindicatos querem rever a grelha salarial, o sistema de avaliação do desempenho, o regime e organização do tempo de trabalho e as regras nos concursos.
Sobre a aposentação os enfermeiros querem criar um regime específico para o setor de forma a que seja possível receberem a aposentação com o valor completo a partir dos 35 anos de serviço e dos 57 de idade, sendo estes os patamares iniciais para a negociação.
Ontem, o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, disse que tem “uma vontade enorme” de chegar a um entendimento com os enfermeiros na revisão da carreira considerando “justíssima” a reivindicação destes profissionais de saúde. “Se há grupo profissional na saúde que precise recriar um modelo de desenvolvimento profissional são os enfermeiros”, frisou o ministro.
No entanto, o governante admitiu que os aumentos salariais são “sempre mais difíceis” porque dependem “da capacidade que o Estado tem de resolver esses pedidos em sede orçamental”.
Desde há meses que as reuniões entre o governo e os sindicatos têm vindo a decorrer, tendo sido apresentada apenas uma proposta de revisão do diploma de carreira.
A greve que agora decorre foi anunciada a 21 de setembro e termina no dia 19 com uma manifestação nacional em frente ao Ministério da Saúde.