A demissão de Azeredo Lopes, anunciada ontem ao final da tarde, pode até ter sido pedida e desejada por muitos, mas acabou por se revelar uma surpresa. A saída do ministro da Defesa foi conhecida por volta das 17h, mas, duas horas antes, Azeredo Lopes e António Costa estiveram na tomada de posse da nova procuradora-geral da República (PGR). Saíram juntos – como que num gesto de confiança – e até se abraçaram.
Pouco depois, pelas 16h45, a assessoria do Ministério da Defesa enviava a agenda do ministro para a próxima segunda-feira, como habitualmente faz, dando conta de que Azeredo iria visitar o Regimento de Infantaria 13 em Vila Real.
Cerca de quinze minutos mais tarde, o ministro demitia-se.
Azeredo Lopes saiu pelo próprio pé, fragilizado com o caso de Tancos e exatamente uma semana depois de o investigador da Polícia Judiciária Militar Vasco Brazão ter garantido ao Ministério Público que o ministro sabia, desde o início, da encenação do reaparecimento das armas roubadas dos paióis de Tancos. Cada vez mais em xeque, Azeredo sabia, à partida, que caso fosse constituído arguido no âmbito da investigação que corre na Justiça, seria o primeiro-ministro a demiti-lo.
A saída do ministro já era esperada entre os socialistas. Tanto na bancada do partido como no Governo, crescia o desconforto em relação a um ministro que, dizia-se cada vez mais nos corredores, tinha sido sempre ultrapassado pelos acontecimentos e não conseguia dar respostas cabais às polémicas sobre o caso de Tancos.
Esta semana, o primeiro-ministro, António Costa, voltou a tentar dar a mão a Azeredo no debate quinzenal. Até chegou aos Passos Perdidos do Parlamento a seu lado, ainda que tenha adotado um discurso mais cauteloso sobre o que o ministro saberá – ou não saberá – sobre a encenação do reaparecimento das armas e o conteúdo do memorando que Vasco Brazão entregou entretanto à Justiça e que o investigador da Judiciária Militar garante provar que Azeredo estava a par da operação. «A informação que tenho é de que não tinha conhecimento» , disse António Costa.
Ontem, e mais uma vez a reforçar a tese de que a saída de Azeredo pode ter sido algo apressada, o Governo não apresentou o nome do próximo titular da pasta da Defesa ao Presidente da República, que se limitou a dizer, num comunicado, que «aceitou a proposta de exoneração e aguarda a proposta de nomeação do sucessor» de Azeredo. Marcelo Rebelo de Sousa deixou assim claro que quer uma solução a breve trecho.
A saída de Azeredo Lopes surgiu na véspera do conselho de ministros que servirá para aprovar, hoje, a proposta de Orçamento do Estado de 2019. Talvez por isso ontem se especulasse, no PS,que a solução mais imediata para suceder ao ministro seria o seu secretário de Estado da Defesa Nacional, Marcos Perestrello.
Contudo, fontes socialistas admitiram ao SOL que esta hipótese comportaria um problema. Se Perestrello fosse promovido a ministro, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, também teria o de ser, por uma questão de equilíbrios internos e pelo papel decisivo que desempenha na ligação aos parceiros de esquerda no Parlamento.
Costa não teve outro remédio
Logo a seguir à demissão, sucederam-se as reações políticas. Do lado do PSD, Rui Rio deu uma conferência poucos minutos depois das 19h, em que considerou que a saída de Azeredo pecou por tardia. «Mas, como diz a frase popular, mais vale tarde do que nunca», acrescentou o presidente social-democrata, para quem o agora ex-ministro teve «sentido de Estado mais cedo do que o primeiro-ministro». Rio criticou ainda o facto de Azeredo Lopes ter justificado a saída com a vonta de não querer perturbar os trabalhos em torno do Orçamento do Estado: «Se foi por razões tático-políticas e não por sentido de Estado é mau».
Quanto a António Costa, garantiu que não teve outra escolha que não aceitar o pedido de demissão do ministro – que é o terceiro a deixar o governo socialista, depois de João Soares e de Constança Urbano de Sousa também terem saído. E não ponderou recusar, por respeito «à sua dignidade, honra e bom nome» e também para «a preservação da importância fundamental das Forças Armadas». O primeiro-ministro aproveitou para agradecer a «dedicação e o empenho» com que Azeredo Lopes «serviu o país no desempenho das suas funções».