As relações entre a bancada parlamentar do PSD e a direção do partido continuam tensas. E se, no final de junho, nas jornadas parlamentares que decorreram na Guarda, o clima de cortar à faca foi por demais evidente – com Rui Rio a não ser aplaudido à chegada –, a seguir à rentrée o relacionamento não parece estar melhor. De tal forma que o mal-estar esteve em discussão esta semana na reunião da bancada parlamentar, que se prolongou por duas horas e em que deputados se queixaram de estarem a ser silenciados por ordem da direção.
O pontapé de saída das críticas, apurou o SOL, foi dado pela deputada Teresa Morais, que usou da palavra para ler um texto – que entretanto publicou na imprensa, com o título «Deixem-nos trabalhar!» –, queixando-se de que «a maioria dos deputados» do PSD estão «arredados do debate político» e «silenciados». «Existe no PSD um lastro de fontes ‘próximas’ da direção que insistem na ideia de que há no grupo parlamentar uma conspiração latente, destinada a desgastar a liderança», continuou a deputada, chegando mesmo a falar num «bloqueio imposto pela direção», que estará empenhada em «vetar nomes e garantir a invisibilidade de algumas pessoas».
Logo a seguir, um conjunto de colegas de bancada mostraram «solidariedade» a Teresa Morais. Entre eles, Luis Marques Guedes – algo que causou surpresa aos deputados –, Aguiar Branco e Carlos Abreu Amorim. O apoio mais expressivo partiu, no entanto, de Paula Teixeira da Cruz, que não se limitou a mostrar-se solidária: fez mesmo questão de dizer que corroborava as queixas. Por essa hora, cá fora, os jornalistas esperavam pelo fim da reunião. Inicialmente, estava previsto um briefing à imprensa pelas 12h30 (a reunião começou por volta das 11h), mas a conversa com os órgãos de comunicação foi sendo sucessivamente adiada. E, no final, nem chegou a acontecer.
Entretanto, perante a onda de críticas e o clima de suspeição de que a direção do partido terá dado «instruções» à direção do gruo parlamentar para que alguns deputados sejam «silenciados», o ex-líder da bancada Hugo Soares pediu a palavra para perguntar diretamente ao atual líder, Fernando Negrão, se é verdade que há essas ordens. Ora Negrão, assumindo uma postura que alguns deputados descrevem como «inábil», não respondeu nem sim nem não e limitou-se a dizer que iria levar a questão ao presidente do PSD. A reunião ainda continuou, com Tancos na agenda, mas contrariamente ao que estava previsto, Fernando Negrão não falou aos jornalistas. Só depois de conversar com Rui Rio apereceu para negar a tese de «saneamento». «Nunca silenciámos nenhum deputado e nunca recebemos qualquer instrução do partido no sentido de silenciar o deputado A ou o deputado B», afirmou. Não sem aproveitar para criticar os deputados que «não estão disponíveis» para usar da palavra quando lhes é solicitado, com o argumento de que «não estão a par de determinado dossiê ou que não concordam com a posição da direção do PSD».
Negrão, apurou o SOL, referia-se concretamente a Teresa Morais. «A verdade é que lhe tem sido solicitado que faça intervenções e simplesmente não as faz», conta um deputado do PSD, que assume ser contra Rui Rio, mas que ainda assim classifica a intervenção da deputada de «vitimização patética».
A verdade é que, dentro do grupo parlamentar do PSD, nem a leitura dos acontecimentos da última reunião à porta fechada é consensual. Há quem discorde da posição assumida pelos críticos, há quem garanta que têm razão e que está a ser travada uma «guerra travada pelo silêncio» e há ainda quem assegure que «muitos» deputados deixaram de participar ativamente, como faziam antes, porque «a estratégia da direção do PSDé uma ciência oculta» vista a partir da bancada parlamentar. «Há um auto-silenciamento, deputados que preferem não falar porque não conseguem entender a orientação do partido e receiam ferir a estratégia» de Rio. Num ponto todos parecem concordar: «Estão a desperdiçar-se ativos importantes que existem no partido».