Nova ministra da Cultura. “A sua afirmação enquanto lésbica é um ato político”

É a primeira governante em Portugal a assumir que é homossexual. O antigo presidente da ILGA, Paulo Côrte Real, defende ao i que a nomeação de Graça Fonseca para o cargo tem “um impacto simbólico” e que pode servir de inspiração para muitos jovens que escondem a sua identidade

Graça Fonseca, a nova ministra da Cultura – escolhida para substituir Luís Castro Mendes –, é a primeira governante em Portugal que assumiu publicamente que é homossexual. A afirmação, que Graça Fonseca justificou como sendo “completamente política”, foi feita numa entrevista publicada em agosto do ano passado, no “Diário de Notícias”.

Para Paulo Côrte Real, ex-presidente da ILGA (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual, Trans e Intersexo) Portugal, a escolha de Graça Fonseca para o cargo de ministra tem um impacto simbólico, porque serve de inspiração para os homossexuais e bissexuais que escondem as suas identidades. “A sua afirmação enquanto lésbica é um ato político que tem consequências do ponto de vista de combater o isolamento e a falta de modelos que tem assolado as pessoas homossexuais desde sempre”, defende ao i.

O ativista salienta que a existência de políticos que divulgam publicamente a sua homossexualidade “ajuda muitas pessoas, nomeadamente jovens, que enfrentam o insulto, a discriminação e a invisibilidade sistemática das suas identidades, a encontrarem modelos e a conseguirem afirmar-se”. “Isso é um contributo importantíssimo”, afirma Paulo Côrte Real.

Apesar do impacto simbólico, o antigo presidente da ILGA alerta que a seleção de ministros tem a ver com as competências que têm para exercer as funções e que isso é “independente de qualquer orientação sexual”.

Depois de Graça Fonseca assumir publicamente que é homossexual, outros dois políticos portugueses seguiram o exemplo: o deputado do CDS Adolfo Mesquita Nunes e a deputada do Bloco de Esquerda Sandra Cunha. Paulo Côrte Real reconhece que “há aqui um movimento”, mas que afirma estar apenas no início. “Estamos a falar de uma realidade em que uma em cada dez pessoas é lésbica, gay ou bissexual. Portanto, no Parlamento há certamente muitas pessoas”, explica.

Ainda assim, o ativista lembra que Portugal tem “muito menos” pessoas assumidamente homossexuais na política do que outros países. “Estamos claramente no início e não no fim e, portanto, estes gestos são para serem marcados e celebrados. Querer fingir que está tudo bem é o primeiro passo para a catástrofe”, alerta Paulo Côrte Real.

Polémica nas redes sociais A deputada do PS Isabel Moreira também celebrou a nomeação de Graça Fonseca, através de uma publicação no Facebook. “Perceber a relevância enorme de Graça Fonseca ser a primeira Ministra lésbica fora do armário em Portugal. Um ótimo trabalho, agora na cultura, querida Graça Fonseca”, escreveu.

A publicação da socialista acabou por ser alvo de várias críticas. A Distrital do PSD de Santarém publicou, também no Facebook: “Segundo a deputada do PS, Isabel Moreira, a ministra da Cultura foi nomeada porque é ‘lésbica’, lamenta-se profundamente que a orientação sexual seja critério de escolha”.

Também do lado dos sociais-democratas, Sérgio Azevedo escreveu que a publicação de Isabel Moreira é para “esquecer”. O deputado do PSD defendeu que a competência de Graça Fonseca está “acima disso”, referindo-se à orientação sexual.