Marcelo e Costa negam ter sabido do telefonema da ex-PGR

Marques Vidal terá telefonado a Azeredo Lopes um dia depois do aparecimento das armas para mostrar desagrado com a atuação da PJ Militar.

Tanto Marcelo Rebelo de Sousa como António Costa negam ter tido conhecimento do telefonema que terá sido feito pela ex-procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, ao ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, a queixar-se da atuação da PJ Militar com a PJ, mostrando um «enorme desagrado», segundo o Sexta às 9. O telefonema de Joana Marques Vidal terá sido feito a 19 de outubro, um dia depois de as armas terem sido encontradas num descampado na Chamusca.

«Como é possível saber o que se passa num telefonema entre duas pessoas responsáveis?», questiona Marcelo Rebelo de Sousa, que diz aceitar a informação  «como um dado novo».

António Costa também garantiu ontem que de nada sabia. E a ministra da Justiça também assegurou desconhecer qualquer chamada telefónica.

Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa responderam exactamente da mesma maneira, e pela negativa, quando questionados sobre se tinham conhecimento do memorando onde foram explicados os passos seguidos na operação que levou ao aparecimento das armas. O documento terá sido entregue pelo ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes, general Martins Pereira, ao então ministro da Defesa.

O chefe de Estado frisa que ainda hoje não sabe o que aconteceu no paiol militar de Tancos, quer sobre o furto, quer sobre a recuperação do material furtado. «Nenhum de nós sabia o que se passou, quando foi o furto das armas isso é uma evidência. E continuou a não saber e verdadeiramente ainda hoje não sabemos. Foi um [assaltante], foram dois, foram três, um não foi com certeza, foram quantos de dentro [do quartel] e quantos de fora e como e para onde e de que maneira, eu acho que em rigor ninguém dos portugueses em geral e dos responsáveis sabe como foi», sublinhou  o Presidente.

No entanto, Marcelo avisa que este é um caso que «não se pode esquecer nem se pode minimizar», assumindo que vai ser «o chato do costume» a exigir toda a verdade, «doa a quem doer».

Entretanto, depois de o seu ex-chefe de gabinete ter dado explicações no DCIAP, o ex-ministro Azeredo Lopes já fez saber que está disponível para ser ouvido pelos investigadores do Ministério Público.

 

Comissão de inquérito aprovada

Entretanto, o Parlamento aprovou ontem a criação de uma comissão de inquérito, com a abstenção do PCP e do PEV. PSD, CDS, BE e PS votaram a favor da proposta dos centristas, que não descartam a possibilidade de chamar o primeiro-ministro a prestar declarações na comissão de inquérito.

Apesar da intenção do CDS, tanto o PS como o PSD não se mostraram favoráveis a este cenário. Rui Rio defendeu que qualquer esclarecimento de um primeiro-ministro deve ser prestado no plenário e não em sede de comissão.

Até hoje, nenhum primeiro-ministro foi submetido a uma audição presencial em sede de inquérito parlamentar. José Sócrates recebeu de uma comissão de inquérito parlamentar 80 perguntas por escrito, em 2010, no âmbito da alegada interferência da compra da TVI pela PT. E Passos Coelho respondeu por escrito às questões da Comissão sobre o caso GES-BES.