O presidente do PSD, Rui Rio, chamou quinta-feira as distritais do partido para preparar terreno para o debate sobre o Orçamento do Estado. A partir de 12 de novembro, a ordem é para colocar membros da comissão política e da direção da bancada do partido a falar com militantes nos dezoito distritos do país e nas Regiões Autónomas. Os sociais-democratas estão a preparar um pacote de alterações ao Orçamento do Estado de 2019 e Rio fez fez uma visita à bancada do PSD na passada quinta-feira.
As duas horas de reunião serviram para ouvir os deputados com um argumento e três certezas. Primeiro, não se viabilizam mais impostos. Segundo, o PSD está a avaliar um voto contra a nova taxa de proteção civil, irá entregar uma proposta de alteração para acabar com o adicional ao imposto sobre os combustíveis e apresentará medidas para «atenuar» a especulação imobiliária. A ideia de apoiar a chamada taxa Robles do Bloco de Esquerda desapareceu do discurso de Rio, depois das críticas, inclusive, da sua comissão política.
O PSD votará contra o Orçamento do Estado, por isso, a reunião da bancada foi pacífica até à intervenção da deputada Paula Teixeira da Cruz. A também ex-ministra pediu propostas de alteração orçamental para contemplar reforço de verbas para o Ministério Público e para a Polícia Judiciária, mas acabou por fazer o discurso mais duro do encontro, ao exigir conhecer o plano de reforma para a Justiça que Rio só divulgou às direções de outros partidos. Os deputados não têm o documento e parte da direção de Rio também não. O líder do partido começou por assegurar que «não deu nada aos grupos parlamentares» e acabou a sua intervenção a garantir que «os deputados terão oportunidade de conhecer» o texto.
Apesar do seu secretismo, a proposta mereceu duras críticas do presidente da Associação Sindical de Juízes. Manuel Soares atacou, por exemplo, o aumento das nomeações políticas nos conselhos superiores de magistraturas e fez comparações aos modelos da Polónia ou Hungria, mais populistas, num artigo de opinião no Público. Ora, Rio disse a Paula Teixeira da Cruz que ficaria preocupado se a ex-ministra partilhasse a mesma opinião de Manuel Soares. Na resposta, Paula Teixeira da Cruz respondeu que «se o que tem vindo a público, e aquilo que está no artigo do presidente da Associação Sindical de Juízes, corresponder ao conteúdo do documento, eu subscrevo integralmente, o artigo de opinião».
Apesar das críticas, o PSD vive momentos menos agitados, depois das longas semanas de silêncio do líder no verão. A não ser que Rio cometa mais algum erro, dificilmente encontrará uma oposição interna organizada até às eleições europeias e legislativas. Até lá, Rio avança com uma comissão de reflexão sobre o futuro do partido e do sistema político. Para o efeito, chamou o antigo líder da JSD, Pedro Rodrigues, para coordenar os trabalhos no próximo ano e meio.
O militante número um, Francisco Pinto Balsemão, presidirá ao conselho consultivo de uma comissão onde tudo será avaliado: redução do número de deputados no Parlamento, pagamento de quotas pelos militantes, abertura do PSD à figura do simpatizante, entre outras matérias. Ao SOL, Pedro Rodrigues diz que todos os militantes serão envolvidos no debate: «O que resultará não será um trabalho de 20 a 30 pessoas, mas de todos quantos queiram participar» .