Na sua primeira intervenção pública como ministro da Defesa, João Gomes Cravinho afirmou ontem ser “fundamental ter a garantia que as lições foram aprendidas” com o “caso Tancos”. E anunciou que no “próximo par de semanas” será possível divulgar resultados da auditoria à Polícia Judicial Militar (PJM) em curso.
“Aquilo que é fundamental para mim é ter essa garantia, que todas as lições foram aprendidas, e penso que durante o próximo par de semanas será possível divulgar o resultado disso: dar conhecimento aos jornalistas, à opinião pública”, referiu, à margem da cerimónia militar que assinalou o fim da semana dedicada à celebração do Dia do Exército, em Guimarães.
Segundo a Lusa, que cita fonte do Ministério da Defesa, o novo governante referia-se aos resultados da auditoria extraordinária aos procedimentos internos da PJM.
Questionado sobre se o furto do material de guerra em Tancos e a alegada encenação feita pela PJM abalaram a confiança dos portugueses no Exército, o ministro foi perentório e afirmou que “a confiança nunca deixou de estar lá”.
“Naturalmente que houve coisas que não correram bem, mas o fundamental é agora sabermos e termos a certeza que as devidas lições foram aprendidas”, acrescentou.
Em relação ao que poderá mudar no Exército e na PJM depois deste processo, João Gomes Cravinho referiu que “aquilo que vai mudar é a correção do que correu mal” e que isso “está num processo de examinação”.
“O senhor chefe do Estado-Maior estará seguramente em posição de dar as garantias adequadas num curto período de tempo”, assegurou.
Marcelo exige rapidez na investigação
Marcelo Rebelo de Sousa quer que “tudo seja apurado” e “que seja o mais rápido possível”. O Presidente da República – que falou aos jornalistas na comemoração do 40º aniversário da União Geral dos Trabalhadores (UGT), no sábado – exige rapidez na investigação para evitar que “haja uma indecisão, uma hesitação, uma suspeição na opinião pública, isto é, nos portugueses”.
Sobre a disponibilidade manifestada pela ex-procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, para prestar esclarecimentos sobre um eventual telefonema que terá feito para Azeredo Lopes para falar sobre a atuação da PJM, Marcelo Rebelo de Sousa não quis fazer comentários. “Isso é o curso da investigação, que não vou comentar”, retorquiu.
Em causa está uma investigação emitida na sexta-feira pela RTP, que deu conta que Joana Marques Vidal terá telefonado a Azeredo Lopes, um dia após o aparecimento das armas roubadas em Tancos. Neste telefonema, a então procuradora-geral terá demonstrado desagrado por a PJM continuar a investigar o caso, numa altura em que a investigação já tinha passado para a alçada da Polícia Judiciária.
Joana Marques Vidal já reagiu, mas recusou confirmar a existência do telefonema, justificando que o processo está em segredo de justiça. Apesar disso, mostrou-se disponível para prestar depoimento, como testemunha.
“Não vou confirmar ou infirmar o que uma testemunha prestou ou terá prestado, no âmbito de um inquérito que está em investigação e que está em segredo de justiça. Estou pronta para esclarecer no local próprio, quando me quiserem convocar as entidades com competência para tal”, disse a ex-procuradora aos jornalistas, no sábado, à entrada para um almoço em sua homenagem organizado pela Ordem dos Advogados.
Ex-porta-voz da PJM ameaçado de morte
O ex-porta-voz da PJM, Vasco Brazão, terá recebido ameaças de morte vindas do presumível cabecilha do assalto a Tancos, o ex-fuzileiro João Paulino. A notícia foi avançada pelo semanário Sol, no sábado.
De acordo com o mesmo jornal, havia ordens de João Paulino para que a Polícia Judiciária Civil não fosse envolvida na investigação. E o suspeito terá deixado claro a Vasco Brazão que haveria represálias se isso não fosse cumprido. O aparecimento das armas no concelho da Chamusca só terá acontecido depois de celebrado este acordo.
“Demissões deviam ter sido há um ano”
Freitas do Amaral considera que o caso do roubo de Tancos é “uma vergonha nacional” e receia que, “por sermos membros da NATO, seja uma vergonha internacional”.
Em entrevista à TSF e ao Diário de Notícias, o antigo ministro dos negócios estrangeiros afirmou que todas as pessoas envolvidas no encobrimento devem ser processadas e que as demissões do ministro e do Chefe do Estado-Maior do Exército chegaram com um ano de atraso.
“Já tudo devia ter sido muito mais explicado. O próprio Ministério Público não precisava, creio eu, de mais de um ano para descobrir aquilo. E consta que já sabia há algum tempo. Portanto, geriu o momento da divulgação”, acrescentou Freitas do Amaral.