Os acordos à esquerda completam hoje três anos e os partidos que apoiam o PS realçam os avanços da legislatura, com a «queda do mito de que só o Bloco Central poderia governar», mas a reedição dos acordos de esquerda é, para já, uma incógnita. O primeiro-ministro, António Costa, chegou a garantir ao Bloco de Esquerda que a geringonça lhe estava na «cabeça como também no coração» em pleno debate quinzenal, há um mês e meio, mas o partido de Catarina Martins percebeu que os socialistas se distanciaram do Bloco a partir do congresso do PS, realizado em maio.
O PCP manteve-se inamovível na posição sobre os acordos de esquerda, ou na «posição conjunta», como é descrito no documento assinado na Assembleia da República há três anos. «A posição conjunta subscrita entre o PCP e o PS identificou um conjunto de objetivos quanto à reposição, defesa e conquista de direitos que têm sido traduzidos ao longo destes três anos. A sua concretização encontra níveis de resposta diferenciados, na sua maioria preenchidos, subsistindo outros que não encontraram resposta plena», responde ao SOL o PCP sobre o balanço dos últimos três anos. A margem para renovar o acordo é estreita, porque os comunistas querem «uma política alternativa que rompa com os compromissos com o grande capital e com a submissão à UE e ao Euro». E será esse «o objetivo da intervenção política do PCP, inseparável do reforço da sua influência política e eleitoral.»
A Europa e o Euro foram, aliás, os pontos que ficaram fora dos acordos para viabilizar a solução, impensável há mais três anos. Mesmo no Bloco de Esquerda, o discurso é de que o partido de Catarina Martins assumirá mais responsabilidades «em função da relação de forças», como explica ao SOL o deputado do Bloco de Esquerda, Pedro Soares.
A porta-voz do PS, Maria Antónia Almeida Santos, é curta na resposta sobre a reedição de um entendimento à esquerda. «Possível é, mas não podemos antecipar cenários antes de termos eleições», explica ao SOL, insistindo na ideia de sucesso da solução governativa. «O próprio primeiro-ministro já respondeu. A evidência está à vista, os resultados são bons, Portugal conseguiu reverter a situação de austeridade que vivia e, portanto, o acordo tem funcionado, mantendo as nossas diferenças, mas penso que nenhum dos parceiros se tem sentido desvirtuado do propósito com que começou. Conseguimos inverter o caminho que Portugal estava a seguir», sintetizou a também deputada socialista, que não vai tão longe como a secretária-geral adjunta Ana Catarina Mendes, que sustentou, numa entrevista à Lusa, que PCP, Bloco de Esquerda e Partido Ecologista os Verdes se renderam ao rigor das contas públicas.
Para Pedro Soares «os resultados que se conseguiram trouxeram, de facto, aquilo que era essencial – a devolução de rendimentos, maior equilíbrio fiscal, um bocadinho no sentido de se contrariar a austeridade» Mas para o parlamentar, o que fica na história é a ideia de que a «uma parte da Assembleia da República não está excluída de participar e ter um papel importante nas decisões, na participação na política». Ou seja, ficou afastado «aquele velho fantasma, aquele mito, de que a esquerda não poderia participar numa maioria, de que o voto na esquerda não era um voto útil». Por isso, nas próximas eleições legislativas, prossegue o deputado, «as alternativas de governação não se cingem ao Bloco Central, do vira o disco e toca o mesmo. Há muitas possibilidades, e o Bloco de Esquerda pode ter um papel essencial».
Nem tudo foram rosas
Apesar dos elogios sobre o caminho percorrido «não se pode deixar de sublinhar as resistências, adiamentos e não cumprimento de compromissos assumidos ao longo destes anos», frisa o PCP na sua avaliação dos três anos de acordo. E do lado do Bloco também houve críticas ao longo destes últimos três anos.
No PS teme-se, por isso, que o discurso dos parceiros de esquerda endureça depois da aprovação do Orçamento do Estado, já a pensar nas legislativas e também nas Europeias, que se realizam já no próximo mês de maio.