As eleições da Associação Mutualista Montepio (MGAM) já estão em contagem decrescente e, apesar de o ato estar marcado para o próximo dia 7, o SOL sabe que a maioria dos associados já votou, uma vez que o boletim de votos foi enviado por correspondência. Enquanto não se sabe o resultado, o clima de tensão tem vindo aumentar nos últimos dias com as questões em torno da legalidade do ato eleitoral a subirem de tom. Também o próprio Governo se antecipou e publicou o despacho que faz com que a Mutualista passe a ser supervisionada pela Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), apesar de beneficiar de um período transitório de 12 anos devido à sua dimensão.
Ainda esta semana, a lista de Ribeiro Mendes (lista B) pediu uma audiência com caráter de urgência ao ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e entregou uma carta a manifestar a sua preocupação relativamente à condução do processo eleitoral da instituição. A carta, assinada por Ribeiro Mendes, João Proença, João Costa Pinto e João Carvalho das Neves revela «apreensão sobre a legalidade em que decorrem as eleições» e indica um sumário das eventuais irregularidades, suspeições e riscos de fraude no processo eleitoral de 2018.
Esta é a resposta do candidato à notícia avançada na semana passada pelo SOL,que revelava que o ministério de Vieira da Silva não irá supervisionar as eleições da Mutualista. «Não se integra no âmbito do exercício da tutela proceder a qualquer tipo de monitorização de atos eleitorais das associações mutualistas», revela ao SOL fonte oficial do Ministério do Trabalho e da Segurança Social, acrescentando ainda que «o processo eleitoral decorre de acordo com as normas previstas nos respetivos estatutos da associação e em conformidade com o código das Associações Mutualistas, que prevê que é da competência do presidente da mesa da assembleia geral convocar a assembleia geral eleitoral, verificar a regularidade das listas concorrentes às eleições e a elegibilidade dos candidatos, dar posse aos titulares dos órgãos associativos, participar às entidades competentes os resultados das eleições e promover e assegurar a realização de todos os atos necessários à realização do ato eleitoral».
Para os signatários desta carta é fundamental que a tutela, através da fiscalização, garanta a «defesa dos interesses dos associados, bem como a defesa dos trabalhadores da instituição que nada têm a ver com a forma como o processo eleitoral está a decorrer», assim como deve verificar «a gestão técnica e financeira das associações, tendo em vista a sua sustentabilidade económica e financeira e a adequação e defesa dos interesses dos associados».
Ribeiro Mendes pede ainda «uma posição firme e uma ação concreta» do Governo com o objetivo de «preservar o MGAM e o seu banco e devolver a esta instituição a sua legalidade e boa gestão, com urgência, a fim de evitar mais uma crise financeira e bancária anunciada no nosso país e mitigar os prejuízos já produzidos para os nossos associados».
Idoneidade centra atenções
Também o problema de idoneidade em torno do atual presidente e também candidato tem estado no centro da campanha. De acordo com a RTP, em agosto de 2018, o Banca IMI de Londres recusou abrir uma conta à Mutualista para negociar em produtos derivados financeiros, após uma análise a Tomás Correia realizada pela World Check, a empresa de avaliação de idoneidade da Thompson Reuters. Mas o SOL sabe que este problema se deveu ao facto de ter sido eleito presidente da Assembleia Municipal de Pedrógão Grande e, como tal, estar exposto politicamente. Ainda o responsável tem vindo a garantir que tem a «certeza absoluta» de que os processos judiciais em curso não o impedirão de cumprir um novo mandato, mas que já levou Ribeiro Mendes a garantir que vai pedir registo prévio dos seus candidatos à autoridade de supervisão e a desafiar as outras listas a mostrarem a mesma disponibilidade.
Mas as polémicas não ficam por aqui. A Associação Mutualista Montepio também prometeu agir «em sede própria e até às últimas consequências» para defender os seus associados e os trabalhadores do grupo. Em causa está a reportagem da TVI que aponta para irregularidades nas eleições da instituição. De acordo com a notícia, o banco está a beneficiar a candidatura de Tomás Correia ao controlar, dentro dos balcões do Montepio, funcionários que consigam garantir o voto na lista encabeçada por si. «É da competência do conselho de administração do MGAM, enquanto cabeça do grupo Montepio, zelar pelos mais elevados interesses do grupo, protegendo e garantindo o seu bom nome, os interesses dos seus associados e clientes, e dos seus trabalhadores. O conselho de administração do MGAM desencadeará os meios apropriados no sentido de ver reparados os danos causados à boa imagem do grupo e das pessoas que o compõem. E fá-lo-á sem qualquer contemplação, mormente quando se trate da defesa do profissionalismo das pessoas», revela em comunicado interno a que o SOL teve acesso. Também a comissão de trabalhadores da Caixa Económica Montepio Geral veio manifestar o seu descontentamento em relação à mesma reportagem. «Os trabalhadores do Montepio são profissionais sérios e íntegros, cumpridores das normas e código de conduta a que estão sujeitos. A Comissão de Trabalhadores rejeita a exposição dos trabalhadores do Montepio na comunicação social», diz um outro comunicado a que o SOL teve acesso.
Uma reação não caiu bem aos adversários. Segundo António Godinho, este comunicado «pretende manipular os trabalhadores do universo Montepio de modo a que estes apoiem a Lista A, institucional», considerando que a maioria dos trabalhadores «é completamente alheia a quaisquer tentativas de manipulação do processo eleitoral, sabendo que muitos resistem estoicamente a pressões fortíssimas para alinharem em processos ilegais e manipulatórios do ato eleitoral».
Também o líder da Lista B criticou o facto de estarem a ser utilizados «mais de seiscentos mil associados do Montepio como ‘escudo humano’ da atual liderança perante as graves atuações que lhe são imputadas pela comunicação social, o que é inaceitável», lembrando que «as reportagens noticiaram factos que alegadamente levantam a suspeição das autoridades judiciais e de supervisão bancária, como podendo ser da responsabilidade de três candidatos da Lista A ao conselho de administração, praticados em funções de gestão noutras instituições que não a Associação».