Só nos primeiros seis meses do ano passado, a Galp conseguiu fazer com que os lucros disparassem 68% com os preços do petróleo e do gás. O aumento da produção e dos preços praticados impulsionou os resultados da petrolífera, que se fixaram em 387 milhões de euros, entre janeiro e junho. No entanto, o ano que acabou de começar tem tudo para não ser tão promissor como muitos possam pensar. Em termos gerais, os especialistas avançam que, em relação petróleo, está previsto um cenário de quedas e Portugal não vai escapar.
AO SOL, Carla Maia Santos, Senior Account Manager da XTB, garante que, «em Portugal, a Galp é a empresa mais afetada com a queda forte dos preços do petróleo nos mercados internacionais. A quebra em baixa do suporte dos 13.30 euros pode levar a quedas mais fortes aos 9 euros, durante o ano de 2019».
Em termos gerais, fica claro que, com o preço a ser influenciado pela oferta e procura, é importante perceber que, «do lado da procura, o abrandamento económico global e a instabilidade dos mercados financeiros pressionam o preço do petróleo». Apenas uma solução na guerra comercial entre China e EUA poderia inverter este sentido.
Já do lado da oferta, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e a Rússia «reduziram a sua produção para 2019 em 1.4 milhões de barris por dia, mas os EUA têm aumentado bastante a sua produção, acima do esperado. Os EUA mostram bastante capacidade de produção compensando as sanções ao Irão, o terceiro maior produtor mundial. Donald Trump já mostrou várias vezes o seu interesse em manter os preços do petróleo baixos. O petróleo desvalorizou mais de 20% em 2018».
Ou seja, de acordo com Carla Maia Santos, esta conjuntura deverá fazer com que se assista a «muita volatilidade no preço do ouro negro durante o ano de 2019, e não vejo muito potencial para recuperação aos máximos de 2018. O petróleo poderá cair abaixo dos 60 dólares durante o ano, podendo estabilizar na zona dos 62 dólares».
O ano do sobe e desce
Em 2018, os meses passaram sem que o petróleo fosse negociado em Londres abaixo dos 50 dólares. Para encontrar a última vez que tinha acontecido, era necessário recuar até julho de 2017.
No entanto, o Natal não trouxe boas notícias para a negociação do Brent, que no dia 26 de dezembro começou a ser negociado em queda, pela quarta sessão consecutiva, quebrando mesmo a barreira dos 50 dólares. Chegou a desvalorizar até aos 49,93 dólares. Já o West Texas Intermediate (WTI), transacionado em Nova Iorque, tinha feito disparar os alarmes quando negociou, nessa mesma semana, em mínimos de junho de 2017: afundou 7% para os 42,36 dólares.
E mesmo com a situação a melhorar, a preocupação em torno do tema não abrandou. A Rússia, através do ministro da Energia russo, Alexander Novak, viu-se mesmo obrigada a tomar posição e garantiu a estabilidade para esta matéria-prima em 2019, o que permitiu que as cotações de petróleo voltassem aos ganhos. O barril de Brent seguiu a somar 7,15% para os 54,08 dólares. Em Nova Iorque também se conseguiu ganhar 8,23% para os 46,03 dólares.
No entanto, muitos continuam a perguntar o que tem estado na origem deste sobe e desce no preço do petróleo que marcou tanto os mercados no final do ano passado. A resposta é relativamente fácil de dar se considerarmos a turbulência que afetou os mercados financeiros. À margem disto, é necessário ter em conta o aumento da oferta por parte dos EUA.
Para acalmar os investidores e diminuir os receios em relação ao que esperar de 2019, Alexander Novak declarou que os primeiros meses do próximo ano serão estáveis e deu a garantia de que a OPEP e todos os países aliados estão prontos para tomar posição caso as condições do mercado fiquem muito diferentes. Também o homólogo dos Emirados Árabes Unidos já tinha vindo dar a garantia de que a OPEP estava preparada para discutir cortes acima dos definidos. Ou seja, há reunião marcada para abril, mas os produtores estão prontos para antecipar este encontro e reajustar a estratégia para controlar os preços da matéria-prima, caso se justifique.
Importa recordar que, apesar de a OPEP e países aliados terem sido decidido cortar na oferta, as preocupações continuam a ser grandes. A justificar as grandes oscilações e principalmente as quedas estão as perspetivas de um excesso da oferta que se justifica com o facto de os EUA estarem a produzir a um nível recorde.
A ameaça dos próximos anos
No verão passado, o cenário era bem diferente do atual. As reservas dos maiores produtores tinham caído e os especialistas deixavam o alerta: estava aberto o caminho para que os preços do petróleo ultrapassassem os níveis recorde alcançados na última década. «Qualquer escassez de oferta provocará uma forte alta nos preços, provavelmente bem maior que a subida que levou o barril a 150 dólares em 2008», avisaram.
Estávamos em julho de 2018 e as reservas as maiores produtores tinham caído. Os alarmes disparam. De acordo com a Sanford C. Bernstein, «se a procura por petróleo continuar a crescer até 2030 e depois disso, a estratégia de devolver dinheiro aos acionistas e pouco investir em reservas acabará por ser a semente do próximo super-ciclo». Mas há mais. Os especialistas defendem há algum tempo que “as empresas que tiverem barris por produzir ou oferecerem os serviços para extraí-los serão as escolhas certas, pois não ficarão para trás».
Recorde-se que o preço recorde do barril de petróleo Brent foi atingido em 2008, com o valor de 147 dólares. Em 2018, já chegou a negociar acima dos 80 dólares o barril, o que não acontecia há três anos.