A “greve cirúrgica” marcada pelos sindicatos de enfermeiros, que terá início esta segunda-feira, poderá ser suspensa caso o governo aceite uma nova reunião de negociações no dia 17 de janeiro.
"Neste momento, nós comprometemo-nos a suspender a greve caso nos seja confirmada a reunião de dia 17 com os dois ministérios [Saúde e Finanças] e com esta mesa negocial para tentarmos de facto chegarmos a um compromisso", garante Lúcia Leite, dirigente da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros à Agência Lusa.
A reunião entre o governo e os sindicatos dos enfermeiros que aconteceu esta sexta-feira já respondeu a algumas das exigências dos profissionais de saúde. Foi acordada a criação da categoria de enfermeiro especialista e o descongelamento das progressões nas carreiras, no entanto ficaram de fora as reivindicações para o aumento salarial e a antecipação da idade da reforma.
Lúcia Leite condissera que a negociação de sexta-feira “foi difícil, demorou bastante tempo”. "O Governo aceitou desde já, nas medidas transitórias, que todos os enfermeiros especialistas que neste momento já são reconhecidos com subsídio transitório, mais os que venham a ser reconhecidos em breve, passem à carreira de especialista de imediato e que todos os enfermeiros que estão em categorias a extinguir – os enfermeiros chefes da antiga carreira – sejam integrados na categoria correspondente na nova carreira, que é a de gestor, o que também é uma mais-valia", explica a dirigente sindical.
Cerca de 600 profissionais que não são reconhecidos na carreira de especialista vão passar a ter esse reconhecimento, com retroativos desde janeiro de 2018 mas sem data avançada pelo o governo para o cumprimento desse acordo. Ao nível do descongelamento das progressões, todos os enfermeiros abrangidos por contrato na função pública irão ver contabilizados 1,5 pontos por cada ano de trabalho entre 2004 e 2014 e dois pontos por biénio a partir de 2015.
No entanto há reivindicações que ainda não foram incluídas: segundo um comunicado emitido pelo Ministério da Saúde depois da reunião, "entre as reivindicações dos enfermeiros que não foram acolhidas, incluíam-se ainda aumentos salariais, com início da carreira no salário de 1613,42 euros, com um impacto financeiro estimado em 216 milhões de euros, e idade da reforma aos 35 anos de serviço e aos 57 anos, com um impacto financeiro estimado de 230 milhões de euros".
Os sindicatos não aceitam que estas reivindicações fiquem de fora das negociações e prometem avançar com a greve marcada entre a próxima segunda-feira e o dia 28 de fevereiro. "Não aceitámos, porque o que está em causa é criar uma carreira de futuro para os enfermeiros e estar a sujeitar a carreira a questões economicistas vai hipotecar o futuro da profissão. O que aceitamos é que haja um faseamento, que haja uma carreira justa para os enfermeiros, de forma equitativa com as restantes profissões da saúde", reforça Lúcia Leite. "Não estamos a pedir nada excessivo em comparação com as outras profissões e, portanto, não vamos aceitar que se reduz a dinheiro o valor desta profissão. O que está na base das propostas que o Governo tem apresentado é uma lógica economicista. Percebemos que tem que haver um faseamento, porque o impacto financeiro é grande, mas não vamos por em causa os princípios nem vamos vender a profissão por uns milhões", acrescenta.