O Reino Unido decidiu ser o primeiro Estado-membro da União Europeia, ainda que esteja para a abandonar a 29 de março, a reconhecer Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional venezuelana, como “presidente interino”. Num comunicado que prima pela dureza, Londres disse “acreditar que Juan Guaidó é a pessoa certa para levar a Venezuela para a frente”. “Estamos a apoiar os Estados Unidos, Canadá, Brasil e Argentina para fazer com que isso aconteça”, continua o documento, acrescentando que o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, Jeremy Hunt, iria encontrar–se com o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, ao final da tarde de hoje, para o “fazer acontecer”.
Antes de Londres dar este passo, já muitos outros Estados tinham ido pelo mesmo caminho: Estados Unidos, Brasil, Uruguai, Paraguai, Colômbia, Costa Rica, Equador, Peru, Chile, Argentina, Guatemala, Canadá, Geórgia e Honduras. Numa tentativa de meio-termo alinhada com Bruxelas, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, voltou a apelar à realização de “eleições livres” e para que Maduro “compreenda que o seu tempo acabou”. Hoje, em desafio, Maduro ordenou o encerramento da embaixada dos EUA.
Já a Comissão Europeia preferiu realçar o seu apoio à Assembleia Nacional, órgão que ficou sem poderes por ordem do Supremo Tribunal de Justiça venezuelano em 2017. “A UE apoia plenamente a Assembleia Nacional como instituição democraticamente eleita”, disse Federica Mogherini, alta representante para a Política Externa da UE, referindo que cinco Estados-membros da UE, incluindo Portugal, tinham pedido a abertura de “diálogo com Caracas”.
Nem todos na UE dão sinais de concordar com a posição anterior nesta crise e há quem tente pressionar Bruxelas para que alinhe com os Estados Unidos. Na quarta-feira, o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, reconheceu a “legitimidade” de Guaidó. “O presidente Juan Guaidó é o único interlocutor institucional na Venezuela, porque é aquele que tem legitimidade democrática”, afirmou. Tajani já apresentou ao Parlamento Europeu um pedido para se debater e votar uma “resolução urgente” sobre a situação no país.
A posição de Tajani parece ganhar força entre os líderes europeus. Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu, disse esperar uma unidade europeia para “apoiar as forças democráticas” na Venezuela e, hoje, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, conversou com o autoproclamado presidente, defendendo que a realização de eleições democráticas e transparentes é a solução “ideal e natural” – o que Guaidó diz querer. Depois, Madrid garantiu que não descarta a hipótese de a UE vir a reconhecer Guaidó.
“Banho de sangue”
Caracas não está sozinha no palco internacional. Ao seu lado tem a Rússia, China, Turquia, Irão, Síria e países da América Latina como México, Bolívia, Cuba e Nicarágua. Moscovo enviou hojeuma forte mensagem a Washington alertando para que não intervenha militarmente no país, visto que tal apenas resultaria em “anarquia e banho de sangue”. Nos últimos três dias, pelo menos 27 pessoas já morreram nos protestos de rua, com várias dezenas a serem detidas.
“Interferência exterior destrutiva, especialmente na situação extremamente tensa que se vive, é inaceitável”, disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo em comunicado. Moscovo sempre evitou expressar-se inequivocamente a favor de Caracas, ainda que seja seu aliado na indústria petrolífera e na venda de armamento.
Os militares são o principal pilar do regime de Nicolás Maduro, com a oposição a tentar fazê-los mudar de posição. Mas o chefe de Estado recebeu hoje o apoio dos militares pela voz do ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López, afirmando que Maduro é o “presidente legítimo” e acusando a oposição de “golpe de Estado contra a institucionalidade, contra a democracia, contra a nossa Constituição”.